A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) ouvirá, na próxima quinta-feira, 3 de setembro, o pastor da Assembleia de Deus, Everaldo Dias Pereira, presidente nacional do Partido Social Cristão (PSC), legenda do governador Wilson Witzel. A convocação ocorreu pelas comissões de Saúde e Covid-19, que investigam os gastos do governo durante a pandemia do novo coronavírus e também as suspeitas de corrupção na Secretaria estadual de Saúde. Homem forte da atual gestão e candidato à Presidência da República em 2014, Everaldo foi citado na delação premiada do ex-secretário da pasta Edmar Santos por conta de sua influência no Palácio Guanabara.
– Está cada vez mais claro que fatores políticos venceram os fatos técnicos na hora de combater a pandemia. Queremos saber se o pastor Everaldo interferiu nisso de alguma forma – explicou o deputado estadual Renan Ferreirinha (PSB), relator da comissão de Covid-19. A oitiva será virtual e transmitida em tempo real pelo canal TV Alerj, no Youtube.
Procurado por VEJA, pastor Everaldo não retornou o contato. Sua assessoria de imprensa informou apenas que “Everaldo está à disposição da Comissão de Saúde da Alerj e das demais autoridades e reitera sua confiança na Justiça”.
Em delação ao Ministério Público Federal, Edmar Santos disse ter sido ameaçado dentro da cadeia por um tenente da Polícia Militar para que ele trocasse de advogado. Edmar contou aos procuradores ainda acreditar que isso teria sido um aceno de apoio financeiro do grupo do pastor Everaldo e do empresário Edson Torres, braço-direito e operador financeiro do presidente do PSC. Os dois foram citados pelo ex-secretário como influentes no governo Wilson Witzel, inclusive dentro da Secretaria estadual de Saúde. Edmar ficou preso no Batalhão Especial Prisional (BEP), em Niterói, na Região Metropolitana, porque é coronel da PM.
Everaldo foi o responsável por abrir as portas do PSC a Witzel, em 2018, quando o então candidato e ex-juiz federal registrava só 1% nas pesquisas de intenções de votos. Os laços de ambos, porém, começaram em 2017. Naquele ano, Witzel buscava um partido para ser candidato ao governo do Rio. À época, Everaldo negociava um acordo para apoiar o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), derrotado no segundo turno por Witzel. O chefão do PSC, então, embarcou no projeto. Com a vitória de Witzel, Everaldo ganhou uma espécie de cheque em branco no Poder Executivo. Indicou até o próprio filho, Filipe Pereira, para ser assessor especial do governador e assumiu coordenação da pré-campanha de Witzel à Presidência da República, em 2022.
Dentro do governo, pastor Everaldo disputava poder com Lucas Tristão, ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais. Tristão é amigo e advogou para o empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito. Segundo as investigações do Ministério Público, Peixoto seria o principal fornecedor de serviços de mãos-de-obra terceirizada no governo do estado.
Alvo de um processo de impeachment na Alerj, Witzel é investigado pela Procuradoria Geral da República (PGR). O governador, no entanto, sempre negou qualquer participação no desvio de dinheiro público em meio à pandemia. Witzel e a primeira-dama Helena foram alvos de busca e apreensão na Operação Placebo, ação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal que vinculou Wilson Witzel a fraudes na construção de hospitais de campanha para tratamento de pacientes com coronavírus. Além das operações Placebo e Favorito, o governo do Rio foi alvo da Mercadores do Caos, do MP fluminense, que prendeu Edmar Santos e Gabriell Neves, ex-subsecretário executivo de Saúde.