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Os bastidores da operação que encontrou o miliciano Adriano na Bahia

Detalhes da ação revelam que ex-capitão do Bope foi localizado pela Polícia Civil do Rio graças aos erros cometidos pela rede de contatos que mantinha

Por Jana Sampaio Atualizado em 14 fev 2020, 17h55 - Publicado em 14 fev 2020, 17h09
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  • A morte de um dos criminosos mais procurados do país, o carioca Adriano Magalhães da Nóbrega, 43 anos, localizado pelo núcleo de inteligência da polícia do Rio de Janeiro e morto pela polícia da Bahia no último domingo 9, encerra um ciclo de buscas iniciado mais de um ano antes, em janeiro de 2019, quando a Justiça decretou sua prisão e a de outras doze pessoas. A razão: Adriano chefiava uma das maiores milícias do Rio, a de Rio das Pedras, na Zona Oeste carioca. A operação para sua captura, que o governador Wilson Witzel (PSC-RJ) celebrou enaltecendo sua polícia (“ela está em outro patamar”), deixou um rastro de perguntas sem respostas e acusações. O advogado do bandido, Paulo Emílio Catta Preta, e sua mulher, Julia Emília Mello Lotufo, sustentam que o ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) foi executado e não morto durante a troca de tiros com agentes que o capturaram na cidade de Esplanada, no litoral da Bahia.

    Adriano foi o último alvo da operação Os Intocáveis a ser localizado. Outros doze foram presos antes. Segundo policiais que participaram da operação durante quase um ano, isso tem a ver com o fato de o ex-caveira, como são conhecidos os integrantes do Bope, ser extremamente cauteloso e treinado. “Ele não cometeu nenhum erro durante esse período todo em que esteve foragido.” Acabou sendo apanhado ao fazer contato com familiares e outros bandidos que vinham sendo monitorados. Nesses casos, tomava um cuidado: sempre trocava o chip do celular. “O contato com parentes e comparsas da milícia nos levaram até ele”, disse um policial a VEJA. Esses mesmos contatos estão sendo investigados pelo Ministério Público.

    Foi justamente por meio de interceptações dos contatos de Adriano que a polícia chegou, pela primeira vez em dezembro, ao condomínio de luxo Quintas do Sauípe, no litoral baiano, onde as casas são avaliadas entre 2 e 3 milhões de reais. A mansão de número 14D foi alugada por Adriano no período de 26 de dezembro a 5 de fevereiro. Até 30 de janeiro era possível encontrar o ex-policial e a mulher, Julia, frequentando as áreas comuns do condomínio, como a academia. Além do casal e das filhas de 7 e 17 e 7, amigos e familiares do miliciano o visitaram no local, segundo relatou este policial a VEJA.

    O bem-bom foi interrompido quando agentes da polícia baiana viram Adriano, de bermuda cargo bege e sem camisa, na propriedade. Ao perceber a movimentação suspeita, o miliciano fugiu pelo mangue nos fundos do condomínio. “Ele escolheu aquela casa por ser a única rota de fuga que não era monitorada por câmeras de segurança. Ainda não sabemos se deixou um carro no local planejando escapar ou se foi resgatado por alguém”, disse o policial.

    Poucos dias depois da ação, o núcleo de inteligência do Rio localizaria Adriano na fazenda do pecuarista Leandro Abreu Guimarães, com quem ele teria ligação de amizade. Fontes da polícia fluminense ainda dizem: Leandro é um possível laranja usado para lavar dinheiro do miliciano em fazendas. No sábado, 8, um mandado de busca e apreensão expedido no dia anterior foi autorizado pelas promotoras da Operação Os Intocáveis. Por volta das 13h, a Polícia Civil do Rio, que àquela altura já contava com gente no local, se reuniu com agentes do Bope e com policiais especializados em ações em lugares com vegetação densa, de difícil acesso. Cerca de 75 homens foram acionados na Bahia para fazer o cerco à fazenda, na área rural de Esplanada.

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    Mas uma ligação de Julia para Adriano, por volta das 21h, atrasou os planos dos policiais. Ela havia sido parada pela Polícia Rodoviária Federal depois que uma lista com as placas dos cinco automóveis usados por Adriano chegou às mãos do chefe da PRF. A mulher do miliciano foi revistada e liberada, mas o fato acendeu o alerta vermelho de que a operação do dia 31 de janeiro na Costa do Sauípe não fora pontual. Adriano estava na mira.

    Julia avisou a ele sobre a blitz na estrada e falou de sua suspeita de que a polícia estava em seu encalço. Adriano pediu então a Leandro Guimarães para levá-lo a algum outro esconderijo. Foi quando o fazendeiro dirigiu até a propriedade de Gilsinho da Dedé, vereador pelo PSL. “Sabíamos que ele estava na casa do Leandro, mas quando chegamos já tinha fugido. Adriano sabia que estávamos atrás dele e por isso disse a Leandro que a operação tinha vazado”, conta um policial que participou da operação. Às 6h de domingo, dez policiais entraram na chácara de Dedé para prender Adriano. Foram recebidos com tiros. “Não sabíamos se ele estava sozinho nem quais armas tinha. Os tiros que ele disparou alvejaram o escudo de um dos agentes do Bope, que dispararam três vezes contra ele. Dois atingiram o tórax e o abdômen do miliciano”, relatou um agente presente à ação.

    Dos treze telefones apreendidos na operação BR 101, como foi batizada a ação para localizar Adriano na Bahia, onze pertencem ao miliciano – os outros dois são do fazendeiro Leandro Guimarães. Todos chegaram na terça 11 ao Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado, o Gaeco, do Ministério Público do Rio. A Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios que investiga a participação de Adriano em diversos homicídios pediu o compartilhamento das informações que constam nos aparelhos na tentativa de elucidar alguns desses crimes.

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    HISTÓRICO DE FUGA

    Entre janeiro e junho de 2019 a polícia e o Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado, o Gaeco, do Ministério Público do Rio, ficaram completamente no escuro quanto a localização de Adriano. Não havia nenhuma pista sobre o desaparecimento dele. Nem mesmo o Disque Denúncia, que costuma receber informações anônimas sobre esse tipo de criminoso, havia registrado qualquer informação sobre o miliciano. Segundo fontes da Polícia Civil, Adriano teria passado uma temporada em Minas Gerais no meio do ano passado, entre junho e julho. Mas não parava muito em um único lugar. “Quando reunimos informações mais consistentes sobre seu paradeiro em Minas, já não dava mais tempo de alcançá-lo”.

    Outra forte suspeita da polícia é de que Adriano esteve no Panamá. Mas também lá não teria ficado por muito tempo. “Sabíamos que ele não estava no Rio, mas acreditávamos que, mesmo tendo recursos para se manter no exterior, ele optaria por permanecer no Brasil para manter o controle dos negócios ilícitos que tocava: milícia, agiotagem e máquinas caça-níquel”, disse o mesmo policial a VEJA.

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