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O significado do 15 de Março de 2015

Ou, por que a sabedoria está em confiar em quem busca a verdade, e sempre desconfiar de quem quer ter a hegemonia da verdade

Por Eurípedes Alcântara
18 mar 2015, 13h31
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  • O domingo passado será lembrado em nossa história como um marco delimitador do avanço do projeto hegemônico do PT no Brasil. O modelo de dominação política que o PT detalha nos seus documentos, resoluções e cartilhas exige duas condições básicas para funcionar. A primeira é a censura à imprensa, com evolução para a completa supressão da liberdade de expressão. A segunda é um corolário da primeira e responde pelo nome de “hegemonia”. A obsessão com a conquista da “hegemonia” é forte no PT, mas seus doutrinadores sempre se esquivam de explicar o que isso significa.

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    É difícil encontrar uma manifestação oficial do PT em que a expressão “hegemonia” não apareça. Um entre centenas de exemplos está na Resolução Política divulgada pelo PT logo depois da contagem dos votos das eleições passadas, que deram a vitória nas urnas a Dilma Rousseff. Diz o documento: “É urgente construir hegemonia na sociedade, promover reformas estruturais, com destaque para a reforma política e a democratização da mídia”.

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    Do Dicionário Houaiss:

    Hegemonia (substantivo feminino)

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    1 – Supremacia, influência preponderante exercida por cidade, povo, país etc. sobre outros

    2 – Derivação: por extensão de sentido, autoridade soberana; liderança, predominância ou superioridade

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    Com base apenas no verbete de dicionário, já seria altamente suspeito que um partido político coloque para si como objetivo “urgente” conquistar a “autoridade soberana” e a “predominância” sobre os outros. Qualquer partido que tenha a hegemonia como objetivo não pode, por definição, ser um partido democrático.

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    O PT, portanto, precisa entender que, de duas, uma: ou renuncia à hegemonia ou desespere de ser visto como um partido apto para o jogo democrático, cuja premissa é a de que nenhum dos participantes deve objetivar a “autoridade soberana” sobre os outros.

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    Os doutrinadores petistas escapam como bagres ensaboados quando se pede que expliquem ao distinto público, afinal, que raios entendem por hegemonia. Entre quatro paredes eles debatem avidamente esse ponto. Melhor poupar o leitor de devaneios sobre as origens e variações filosóficas da hegemonia política e saltar para o que realmente interessa:

    1) Quem, quando e onde obteve essa hegemonia.

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    2) O que foi preciso para alcançá-la.

    Vamos lá.

    1) A hegemonia pela qual o PT é obcecado só existiu e existe em regimes totalitários em que a democracia foi erradicada: na Rússia soviética sob Stálin, na Alemanha nazista sob Hitler e, perifericamente, em países irrelevantes como Cuba e Coreia do Norte.

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    2) Para obter a hegemonia naqueles países foi necessário:

    a) Formar um regime de partido único colocando na ilegalidade todos os demais

    b) Prender, fuzilar ou exilar depois de julgamento sumário as pessoas que pensassem de forma diferente

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    c) Censurar todas as formas de expressão cultural e eliminar a imprensa livre

    Vamos reler o trecho da recente resolução do PT em sua forma dissimulada: “É urgente construir hegemonia na sociedade, promover reformas estruturais, com destaque para a reforma política e a democratização da mídia”.

    E, agora, substituindo os termos abstratos pelo que eles significam na prática: “É urgente formar um partido único colocando na ilegalidade todos os demais, promover a retirada de circulação de todas as pessoas que pensem de forma diferente, com ênfase na censura à imprensa e supressão de todas as formas de expressão em desacordo com o partido”.

    Podemos estar cometendo uma injustiça atribuindo ao PT objetivos que nem de longe são os acalentados pelo partido? Existe a possibilidade de que esses objetivos sejam privativos de uma ala radical e minoritária do PT? Sim, mas para que isso fique claro seria do interesse do próprio PT que seus dirigentes explicassem esse ponto com maior clareza.

    Enquanto o esclarecimento não chegar às massas vestidas de verde e amarelo que foram às ruas no domingo passado e já preparam novas manifestações, elas vão gritar que “nossa bandeira nunca será vermelha”. Em outras palavras, enquanto o PT não explicar como pretende obter a hegemonia e o que planeja fazer com ela caso atinja seu objetivo, o mais prudente mesmo é seguir o sábio conselho do escritor francês André Gide, premiado com o Nobel de Literatura em 1947: “Confie em quem busca a verdade, mas sempre desconfie de quem a encontrou”.

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