O ex-tucano por trás da campanha que pode desbancar o PSDB em BH
Vereador de 30 anos eleito pela primeira vez neste ano foi pupilo da irmã de Aécio, Andrea Neves: ‘ela tem inteligência privilegiada’
Independemente do resultado de domingo (30), a campanha de Alexandre Kalil (PHS) à Prefeitura de Belo Horizonte se tornará um ‘case’ de estudo para os cientistas políticos. Como um candidato de um partido nanico conseguiu ultrapassar o afilhado de Aécio Neves, principal cacique de Minas Gerais, nas pesquisas de intenção de voto na reta final da eleição? Um rapaz de apenas 30 anos é parte dessa resposta.
Filiado ao PSDB de 2005 a 2013, o professor de direito Gabriel Azevedo é coordenador da campanha do ex-cartola do Atlético-MG. Apesar da idade, seu currículo é de veterano. Já esteve ao lado de Aécio em três eleições, Marcio Lacerda (PSB, atual prefeito de BH) por duas vezes, Itamar Franco (PPS) e Antonio Anastasia (PSDB). No governo deste, foi subsecretário de políticas para a juventude.
Nessas oportunidades, trabalhou lado a lado com Andrea Neves, irmã do senador tucano e cabeça de todas as campanhas dele.
“Realmente convivi com a Andrea, uma pessoa de inteligência privilegiada. Observando-a, deu para aprender muita coisa que eu utilizo na campanha atual”, conta Azevedo à reportagem de VEJA. “A capacidade de definir uma estratégia, mobilizar a equipe, criar um discurso, caprichar nos programas de TV. Isso ela me ensinou bem”, explica.
A ruptura com os tucanos se deu após a aproximação do PSDB em Minas com o PMDB. “Eu não mudei de lado. Sempre estive contra o PMDB. Quem mudou de lado foi quem se aliou a eles.”
Agora, ele está no campo oposto de Aécio e Andrea, que apoiam a candidatura do deputado estadual João Leite (PSDB), rival de Kalil. Sobre o assunto, Azevedo é diplomático: “No final do primeiro turno eu estive com ela, somos amigos. Reforçamos a ideia de que o respeito seria mantido entre nós. As eleições passam, e as boas relações têm que ser mantidas”.
Aproximação
Azevedo e Kalil se conheceram em 2008, quando este havia acabado de assumir a presidência do Clube Atlético Mineiro. Com apenas 22 anos, Gabriel foi convidado a assumir um cargo na comunicação do time.
Partiu do jovem a ideia de criar uma conta no Twitter para o cartola, em 2009. “Sempre defendi que ele deveria ter uma relação direta com a torcida”, conta Azevedo. Hoje, o perfil tem mais de um milhão de seguidores —o que deu uma mão no primeiro turno, quando a campanha tinha apenas 20 segundos de propaganda na TV.
O jovem diz que o diferencial de sua comunicação é ter uma “estrutura leve” em tempos de crise e restrições da lei eleitoral. “Tem vídeo que a gente gravou na sala da casa do candidato. Não tem estúdio, não tem teleprompter. O Kalil tem um discurso muito pronto”, afirma.
Devo, não nego
A reta final de campanha tem exigido bastante sangue frio de Kalil, de estilo estourado. Desde que as pesquisas começaram a mostrá-lo na dianteira na intenção de votos, o nível dos debates e propagandas políticas em Belo Horizonte caiu vertiginosamente.
O primeiro debate após o resultado teve acusações mútuas e gritaria, o que provocou críticas até das mediadoras. Num desses bate-bocas, Kalil acabou cometendo um ato falho: quando João Leite levantou a acusação de que o ex-cartola não pagara direitos previdenciários de ex-funcionários de sua empreiteira, ele rebateu dizendo “eu roubo, mas não peço propina”.
“Nós ficamos assustados naquele debate”, diz Azevedo. “Desde o início, o João Leite prometeu uma campanha de alto nível. No primeiro turno, chegava nos debates e beijava o Kalil, chamava-o ‘meu presidente’. E, de repente, veio com os dois pés na porta.”
A campanha do candidato do PHS não nega a existência de processos trabalhistas ou o fato de que Kalil devia R$ 100 mil em IPTU no início da campanha —Azevedo diz que a multa foi acertada recentemente.
Mas justifica: “Durante os seis anos em que ele foi presidente do Galo, o Kalil esqueceu da vida pessoal dele. A vida dele era o Galo. O clube saiu de um faturamento de 20 e poucos milhões para R$ 300 milhões. Ele colocou o time no andar de cima do futebol brasileiro. O carinho dele ao se dedicar a uma missão é de soldado: ele dá a vida por aquilo.”
“Não é só ele que está em situação complicada no país. Outros empresários meteram os pés pelas mãos e estão em Curitiba. Dever, deve sim, mas envolvido em Lava Jato não está não.”
Nem direita, nem esquerda
Kalil tem ambiguidades inegáveis. Quer passar a imagem de um bom gestor com uma empresa que não está bem das pernas. É um candidato antipolítico, mas financiou campanhas no passado. Mas esses não foram obstáculos para seu crescimento, avalia Azevedo.
“Mesmo tendo, obviamente, relações com o mundo político, ele topou o desafio de ser um candidato independente. Essa foi a diferença. Não tem cacique, não tem padrinho na propaganda dele”, afirma.
O “self-made man” político, na visão do jovem, é um fenômeno que vai crescer cada vez mais. “A política tradicional, no sentido partidário, não atrai mais ninguém. Quando se fala em candidato independente, estamos dizendo ‘menos partido e mais resolução da vida das pessoas’”.
E, para Azevedo, Kalil consegue ser independente também de ideologias. “Em BH, o que existe é gente querendo rua sem buraco, hospital que funcione, mais segurança. Numa eleição municipal, eu não acredito que esquerda e direita estejam no topo da preocupação do cidadão”, avalia ele que, em seu comitê de campanha para vereador, tinha frases do conservador premiê britânico Winston Churchill nas paredes.
“Sinceramente, acho que o Kalil não está na direita ou esquerda. Como é difícil hoje, qualquer pessoa que é múltipla nas opiniões ser enquadrada de um modo tão simples”, define.