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O debate amazônico que envolve Elon Musk, Inpe e a “cloroquina espacial”

Medidas recentes do governo federal para o monitoramento do desmatamento da floresta são alvos de críticas dos especialistas no assunto

Por Da Redação Atualizado em 7 jul 2022, 16h01 - Publicado em 10 jun 2022, 14h05

Um conjunto recente de anúncios do governo Jair Bolsonaro (PL) na área de monitoramento espacial por satélites provocou nas últimas semanas uma reação de ex-diretores e técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe). Eles veem na ação uma tentativa de excluir o órgão do monitoramento de queimadas e do desmatamento na Amazônia e criar dúvidas sobre seus dados. A polêmica respinga até nos negócios previstos para a região de Elon Musk, que incluem o lançamento de satélites para monitoramento da floresta pela Força Aérea Brasileira em um foguete da SpaceX, uma das empresas do bilionário americano.

A discussão ocorre em torno da “Câmara Consultiva Temática”, criada no começo deste mês pelo governo federal para debater a qualificação dos dados de desmatamento da Amazônia. O novo órgão terá como membros representantes dos ministérios do Meio Ambiente, Agricultura, Defesa, Economia e Justiça — especialistas do Inpe e do Ministério de Ciência e Tecnologia, ao qual o Inpe está subordinado, não foram incluídos na Câmara. Segundo o governo, a função dela será “qualificar os dados de desmatamento e incêndios a fim de diferenciar crimes ambientais de outras atividades, utilizando bases de dados oficiais já existentes”.

O receio dos especialistas do Inpe é que a Câmara seja utilizada para questionar ou atrasar a liberação dos dados de desmatamento do instituto, que é referência mundial para o monitoramento da Amazônia. O resultado do desmatamento anual normalmente é divulgado entre o fim de outubro e o início de novembro, período que neste ano pode coincidir com a disputa do segundo turno das eleições presidenciais. Para o pesquisador Gilberto Câmara, que dirigiu o Inpe de 2005 a 2012, o desmatamento neste ano pode chegar ao patamar mais alto em 18 anos. “É dificílimo (o desmatamento) ficar abaixo de 15 quilômetros quadrados, e a última vez que o Brasil desmatou 15 quilômetros quadrados em um ano foi em 2004, para se ter uma ideia”, diz Câmara.

O ex-diretor do Inpe classificou o anúncio de que os novos satélites seriam usados para monitorar desmatamento como “cloroquina espacial”. Ele ressalta que não há nenhuma evidência científica que demonstre que os equipamentos da FAB possam ser usados para essa finalidade. Os satélites Starlink de Elon Musk, por sua vez, também não fazem imagens. “Esses satélites que eles lançaram agora não têm nenhuma evidência de que sirvam para medir desmatamento, é por isso que gosto de chamá-los de ‘cloroquina espacial’: é exatamente igual a cloroquina, você não tem nenhuma evidência de que ela sirva para combater a covid-19”, diz Câmara.

O sindicato dos servidores do Inpe, nas últimas semanas, tem divulgado artigos contrários aos anúncios do governo. Câmara diz que dificilmente o governo conseguirá barrar a divulgação dos dados gerados pelo instituto, mesmo que eles passem por revisão na nova câmara temática, o que pode gerar atrasos. No ano passado, o governo já foi alvo de críticas por atrasar a divulgação do balanço anual, que apontava alta no desmatamento, para depois do fim da COP26.

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