Julia Lotufo revelou em sua delação premiada feita junto ao Ministério Público do Rio de Janeiro que os corpos das vítimas do “Escritório do Crime” foram enterrados no haras Modelo, em Guarapimirim, no Rio de Janeiro. Entre 2014 e 2019, período em que viveu com o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, ela tomou conhecimento de dezenas de reuniões da organização criminosa para decidir execuções. Os cadáveres eram enterrados num cemitério clandestino nos fundos do haras.
“Eles enterraram corpos no haras, de vítimas do Adriano e do Bernardo. Tinha o Haras e a fazenda lá atrás, era lá atrás. Era muito morro, muita mata”, disse Julia em depoimento. “Todos os assassinatos foram todos em prol dos interesses da contravenção”. Segundo ela, o haras também era usado para esconder carros clonados, que a quadrilha usava para as execuções, além de servir como local de treinamento tático e de tiro para os matadores contratados por Adriano.
Segundo a delatora, Adriano era responsável pela a ‘força armada’ do Escritório do Crime, sócio do homem que ela aponta como o cabeça da organização criminosa, o contraventor Bernardo Bello. Muitos encontros de Adriano e Bernardo eram feitos no haras Modelo. Adriano recebia entre 500 mil e 700 mil mensais de Bernardo por cada execução. Julia ouviu de Adriano que “Bernardo designava a próxima vítima”.
Cabia a Adriano escolher as armas que seriam empregadas no crime, os integrantes da organização que participariam da execução e os valores que seriam pagos por Bernardo para cada matador. Após a execução os envolvidos recebiam em dinheiro vivo do tesoureiro da organização, Paulo Matos. Julia explicou aos promotores que muitos pagamentos eram feitos diretamente por Bernardo, que dava a ordem para Paulo Matos transferir em espécie para Adriano.
Ela deu detalhes de como eram feitos os pagamentos para seu marido. “O pagamento do Adriano era em duas partes, uma no dia primeiro e outra até o dia dez”, afirmou Julia. Segundo ela, o Escritório do Crime “era uma organização voltada exclusivamente para fins financeiros dos executores e em benefício dos sócios, Bernardo e Adriano”. Pelos cálculos da delatora, a contravenção administrada por Bernardo Bello arrecada entre 100 e 200 mil reais por dia.
Júlia assistiu durante seis anos Adriano adquirindo armamentos como fuzis, submetralhadoras, equipamentos para corte de rede telefônica, roupas camufladas, rastreadores, lunetas, granadas, munições e celulares, que eram usados para as execuções do Escritório do Crime. Os armamentos do Escritório do Crime, financiados por Bernardo Bello, ficavam sob a responsabilidade do funcionário pessoal de Adriano chamado Odimar, conhecido como “Marreta”.
Para se proteger, Adriano não tinha rotinas fixas, alugava flats e trocava celular a cada sete dias. A lista de veículos do criminoso incluía BMW X1, Range Rover, Honda Civic, Toyota Corolla, Caminhonete Hilux e Volkswagen Amarok. O veículo mais usado por Adriano era uma Dodge RAM, blindada com nível 5. A segurança pessoal de Adriano era feita por dez homens armados. Além disso, os integrantes do seu exército de matadores tinha 13 homens, também subordinados ao ex-capitão. Ou seja, Adriano tinha um batalhão de 23 homens à sua disposição.
Em 2018, Adriano se sentia desgastado e não mais motivado financeiramente, segundo contou Julia. Além disso, o criminoso começou a ficar preocupado com as investigações e com graves sanções que poderia sofrer com as atividades do Escritório do Crime. Adriano passou a não mais aceitar algumas propostas de execução de desafetos de Bernardo, o que causou desconforto entre ele e a quadrilha, conforme o depoimento de Julia Lotufo.