O segmento conservador no Congresso Nacional, que é considerável, mira agora em outro alvo na defesa de sua pauta de costumes. A nova cruzada desse grupo, argumentam, visa resguardar a língua portuguesa.
Não por acaso aliados do governo Bolsonaro, pelo menos 4 deputados apresentaram projetos para proibir a adoção no país do gênero neutro da linguagem, aquela que substitui os artigos “o” e “a” nas palavras e os substituem por “x”, “@” ou “e”.
Assim, tomando só um exemplo, a expressão prezados vira “prezadxs”, “prezad@s” ou “prezades”. Essa nova forma, englobaria todos os sexos, sem exclusões.
Na prática, a linguagem neutra, ou não-binária, já vem sendo adotada, ainda de que maneira informal, em publicações e postagens em redes sociais, em discursos de determinadas ocasiões e até em escolas, mas de forma muito incipiente.
O incômodo dessa bancada é o fato de ser essa uma bandeira de movimentos sociais, em especial dos que são ligados às causas LGBTQIA+. Esses deputados não aceitam um “terceiro sexo”, como têm hábito de repetirem ao longo de anos na Câmara e no Senado. Só existem o homem e a mulher.
“É uma tentativa forçada de modificação da língua portuguesa, capitaneada por alguns movimentos sociais, com a falaciosa bandeira de democratização da linguagem. Nossa língua não é preconceituosa, mas sim aqueles que a pretendem utilizar para militância ideológica e exaltação de agenda política, modificando a realidade para moldá-la a seus propósitos escusos”, justifica o deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Derrite é capitão da Polícia Militar e autor de um dos projetos que veda a adoção dessa linguagem.
Muito próxima de Bolsonaro, a deputada Carolina de Toni (PSL-SC) também ataca o que chamou de “novo dialeto” e propõe a defesa da norma culta da língua. Ela defende uma espécie de plebiscito sobre o tema.
“É absolutamente autoritário, ditatorial e antidemocrático que movimentos de minorias, tais como os que propagam o chamado dialeto, linguagem não-binária ou neutra, que toma de assalto as escolas. Pretendam modificar a língua oficial impondo diretamente nas salas de aula, o ensino de uma linguagem que substitua a gramática e a língua oficial, sem antes ter submetido tal pretensão a uma decisão geral da nação e sem aprovação maciça da população brasileira”, argumenta a parlamentar.
“Então, palavras como menina e menino dariam lugar a menine, menin@ ou meninx; todos daria lugar a todes, tod@ ou todx, por exemplo. Inaceitável”, completou Carolina de Toni.
O deputado Junio Amaral (PSL-MG), outro autor de proposta contra a neutralidade de gênero, quer proibir que escolas, bancas examinadoras de seleções de concursos públicos, editais e currículos escolares recorram a essa flexão de gênero.
Outro parlamentar, Julio Cesar Ribeiro (Republicanos-DF), também quer barrar essa novidade no dia a dia da língua portuguesa.
“A discussão para essa substituição vem com o objetivo de incluir pessoas trans, não binárias, intersexo e as que não se identificam com os gêneros masculino e feminino, criando assim o gênero neutro para fins de aprendizagem e alfabetização. O projeto proíbe a substituição do gênero masculino e feminino pelo gênero neutro por considerar que em nenhum momento a modificação da língua portuguesa poderá beneficiar ou minorar os preconceitos existentes”, diz Ribeiro.