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MP do Rio deflagra operação para prender viúva de Adriano da Nóbrega

Ação da promotoria e do Gaeco mira esquema de lavagem de dinheiro do grupo do miliciano, morto em fevereiro de 2020

Por Marina Lang Atualizado em 25 mar 2021, 19h45 - Publicado em 22 mar 2021, 08h31

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) deflagrou a Operação Gárgula nesta segunda-feira, 22. O objetivo da ação é prender a viúva de Adriano Magalhães da Nóbrega, Júlia Lotufo, e o PM Rodrigo Bitencourt Fernandes Pereira do Rego, além de Daniel Haddad Bittencourt Fernandes Leal – todos eles denunciados por associação criminosa, agiotagem e lavagem de dinheiro.

Julia Lotufo já é considerada foragida da Justiça e ainda não foi localizada. O PM Rodrigo Bittencourt, que é soldado da corporação (faixa salarial em torno de 3 000 reais), foi preso. Na casa da sua sócia, também alvo da operação hoje, foram apreendidos 75 000 reais em espécie.

Julia Lotufo posa para foto com miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime
Julia Lotufo posa para foto com miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime (MPRJ/Reprodução)

Também foi expedido mandado de prisão contra o sargento da PM Luiz Carlos Felipe Martins, o Orelha, homenageado pelo então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), e executado a tiros na porta de casa no último sábado 20.

No total, quatro mandados de prisão e 27 de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça na última sexta-feira, 19. A execução do PM aconteceu no sábado de manhã.

“É o que parece. A característica da execução parece queima de arquivo. Não dá para afirmar, mas às vésperas da operação ele ter sido executado da maneira que foi é realmente de se estranhar”, declarou o titular do Gaeco, Bruno Gangoni, em entrevista na porta do MP do Rio.

As investigações do assassinato de Martins estão a cargo da Delegacia de Homicídios da Capital, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.

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Adriano da Nóbrega foi morto em uma operação na Bahia em fevereiro do ano passado em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas pelas autoridades.

A 1ª Vara Criminal Especializada do Tribunal de Justiça do Rio também acatou o pedido de sequestro do Haras Fazenda Modelo, que pertenceu à Shanna Garcia, filha do bicheiro Maninho, morto em 2004, além da apreensão de automóveis e bloqueio de 8,4 milhões de reais correspondentes ao valor mínimo constatado em movimentações pelos criminosos. Adriano foi segurança de Shanna e chegou a tentar um roubo do haras, conforme VEJA mostrou em reportagem publicada em dezembro. O MP do Rio não explicou como o haras foi transferido para a posse de Adriano.

Também estão denunciados, com medidas cautelares diversas de prisão deferidas pela Justiça, Carla Chaves Fontan, Carolina Mandin Nicolau, Jefferson Renato Candido da Conceição, o Sapo, David de Mello Lotufo e Lucas Mello Lotufo – os dois últimos são irmãos da viúva de Adriano.

Na manhã desta segunda, o MP do Rio informou que apreendeu 75.000 reais em espécie na casa de Carla, além de de dois carros de luxo na casa do PM Rodrigo Bittencourt.

Segundo o documento, sob comando de Adriano, os denunciados praticaram crimes de agiotagem e lavagem de dinheiro em favor do miliciano. As manobras visavam a ocultação e dissimulação da origem do dinheiro ilegal obtido através dos crimes perpetrados pelo miliciano.

Ainda de acordo com a denúncia, foi identificado que a partir do ano de 2017 até 09 de fevereiro de 2020, Rodrigo Bittencourt, Julia Lotufo, Carolina Nicolau, Daniel Haddad, Carla Fontan e Luiz Carlos Martins, sob as ordens de Adriano, atuaram na concessão de empréstimos a juros exorbitantes a terceiros (até de 22%), utilizando-se de empresas de fachada.

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Em nota, o MP do Rio explicou que “o dinheiro investido para esses empréstimos era oriundo dos lucros auferidos pelo miliciano com as práticas criminosas da organização paramilitar em atuação na comunidade de Rio das Pedras e adjacências, além de seu envolvimento na contravenção. Tais atividades lhe rendiam recursos significativos que justificam sua incompatível evolução patrimonial como ex-capitão da PM. Também de acordo com a investigação, a origem do dinheiro alocado para a concessão de empréstimos era dissimulada por essas empresas, com o auxílio dos agora denunciados, responsáveis pelas operações financeiras do miliciano”.

Uma das empresas utilizadas era a Cred Tech Negócios Financeiros Ltda., que tem como sócios o PM Rodrigo Bittencourt e Carolina Mandin. As investigações demonstraram se tratar de empresa de fachada que movimentou no período compreendido entre 01 de agosto de 2019 a 28 de abril de 2020 a expressiva cifra de 3 624 531 milhões de reais. Já os denunciados Jefferson da Conceição e Daniel Haddad Leal atuaram como “laranjas” no esquema de lavagem de dinheiro. Os bens dos devedores da Cred Tech eram confiscados por eles e passados para seus nomes. Segundo o MP do Rio, Daniel foi alvo de busca e apreensão em fevereiro de 2020 quando foi apreendido em seu poder a quantia de 124 600 mil reais pertencentes à organização criminosa. A despeito de a sociedade da Cred Tech ter sido mantida ativa, não se visualizaram operações financeiras suspeitas após a morte de Adriano.

Luiz Carlos Felipe Martins, morto no último sábado (19), é descrito na denúncia oferecida em dezembro de 2020 como homem de confiança de Adriano e que o auxiliava na administração dos valores que seriam colocados na “praça” a título de empréstimos a juros. Ele era responsável por levar valores a familiares e prestadores de serviços de Adriano e pelo pagamento das despesas pessoais de Adriano com aluguel, carros, cartões de crédito. “A ação penal será extinta em relação a ele”, disse o MP em nota.

Já Julia Lotufo, viúva de Adriano, era a responsável pela contabilidade e gestão financeira de Adriano nos lucros das atividades criminosas – como a liderança da milícia de Rio das Pedras. Era a ela, também, que os denunciados Rodrigo, Daniel e Luiz Felipe se reportavam para prestar contas sobre os valores pertencentes a Adriano, que eram investidos, a título de empréstimos a juros ou para a constituição de outra sociedade empresária, a Lucho Comércio de Bebidas, também utilizada para a lavagem de dinheiro, cujos sócios eram Rodrigo Bittencourt e Carla Fontan.

Segundo o MP do Rio, alguns meses depois da morte de Adriano, Rodrigo e Carla transferiram todo o capital social da Lucho Comércio de Bebidas a Lucas Lotufo e David Lotufo, irmãos de Julia. A alteração contratual evidencia, segundo os investigadores, “que a denunciada Julia permaneceu agindo com o intuito de ocultar e administrar o patrimônio de Adriano, beneficiando-se diretamente do proveito dos crimes por ele praticados”. A investigação constatou também que Julia, assim como Luiz Carlos Felipe, “atuaram na dilapidação do patrimônio de Adriano com a venda imediata de ativos de alta liquidez”.

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