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PM homenageado por Flávio Bolsonaro na Alerj é assassinado a tiros no Rio

Sargento era próximo ao ex-capitão Adriano da Nóbrega, falecido em fevereiro de 2020; testemunhas dizem que disparo veio de carro em movimento

Por Marina Lang Atualizado em 25 mar 2021, 19h48 - Publicado em 20 mar 2021, 15h57

O 2º sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro Luiz Carlos Felipe Martins foi assassinado a tiros na porta de casa na manhã deste sábado, 20, em Realengo, na Zona Oeste da cidade. Segundo testemunhas, um carro passou atirando e matou o PM – outro policial militar e uma mulher também foram atingidos pelos disparos, mas foram socorridos e encaminhados ao Hospital Estadual Albert Schweitzer, também na Zona Oeste.

A morte de Martins ocorreu após ser revelada uma série de escutas telefônicas que comprovam que ele era o gestor do espólio criminoso do ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, também assassinado a tiros em uma operação policial na Bahia, em fevereiro de 2020, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas pelas autoridades. Tal como Adriano, Martins também foi congratulado com a Medalha Tiradentes pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro (Republicanos), à época do PP. A moção é a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Fac-simile da moção que concedeu Medalha Tiradentes ao PM assassinado hoje
Fac-simile da moção que concedeu Medalha Tiradentes ao PM assassinado hoje (Alerj/Reprodução)

Capitão Adriano também era chefe do Escritório do Crime, consórcio de milicianos e assassinos que matam sob encomenda no Rio. VEJA apurou que o sargento assassinado hoje também mantinha relações há décadas com a máfia de paramilitares, cujas bases são os bairros de Muzema e Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio.

Segundo a reportagem do portal The Intercept Brasil, “Adriano transformou o Escritório do Crime numa espécie de holding, investindo os lucros da milícia em propriedades rurais, gado, cavalos de raça, posto de gasolina, restaurantes, revenda de veículos, depósitos de bebidas, academia de ginástica, clínica veterinária, empresa de crédito, casas de material de construção, construtoras de pequeno e médio porte, além de duas empresas voltadas ao aluguel de imóveis próprios. Uma delas com capital social de R$ 11 milhões e endereço na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, no Rio. O espólio amealhado pelo ex-caveira conta com bens até em Miami, nos Estados Unidos”.

A reportagem aponta, ainda, que uma venda de 85 cabeças de gado pertencentes a Adriano, 12 dias após a sua morte, rendeu ao grupo criminoso pouco mais de meio milhão de reais. Nas escutas telefônicas, Martins, tido como homem de confiança do ex-capitão da PM, é citado por supostamente não saber que o espólio de Adriano tinha 598 mil reais em dinheiro vivo.

Assassinado hoje, Martins também aparece em outro episódio revelado pelo site. Em 15 de fevereiro de 2020, seis dias após a morte do ex-capitão na Bahia, o sargento Martins conta a um interlocutor que “Adriano dizia que se fodia por ser amigo do Presidente da República”, Jair Bolsonaro (sem partido). De acordo com a documentação obtida pelo portal The Intercept Brasil, as escutas foram encerradas pelo Ministério Público do Rio após o episódio.

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Histórico policial

A ficha corrida de Martins também era grande, tal como a de seu aliado Adriano. Ambos os amigos eram integrantes de um grupo conhecido como “guarnição do mal” por moradores da Zona Norte do Rio – todos eles foram homenageados com a Medalha Tiradentes em 2003 pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro no mesmo dia. Outro nome que também foi agraciado na mesma data, mas que não fazia parte da “guarnição do mal” era o de Fabrício Queiroz, policial militar da reserva que se tornou assessor de Flávio e é apontado como o operador do esquema de corrupção conhecido como “rachadinhas” no gabinete do então deputado na Alerj.

Num período de um mês após as moções, a temida “guarnição do mal” liderada por Adriano e comparsas como Martins aterrorizava a comunidade de Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio. Oficialmente, o Grupamento de Ações Táticas comandado por Adriano se envolveu em torturas, extorsões e sequestros de três jovens da favela. Em 27 de novembro daquele ano, eles foram apontados como executores de Leandro dos Santos da Silva, de 24 anos, guardador de veículos que foi morto com três tiros na porta de casa, um dia depois de formalizar uma denúncia contra o grupo na Corregedoria da PM.

Adriano, Martins e o resto do grupo foram acusados pelo homicídio. O então sargento apontado como autor dos disparos foi policial Ítalo Pereira Campos, o Ítalo Ciba (Avante), ex-vereador no Rio de Janeiro que não conseguiu se reeleger no ano passado para a Câmara do Rio. Ao jornal O Globo, Ítalo Ciba relatou que Flávio Bolsonaro foi visitar ele e o ex-capitão Adriano na prisão. Mesmo com as prisões pelo homicídio do guardador de carros, Flávio não sustou as homenagens.

No dia 24 de outubro de 2005, todos eles foram condenados em 1ª instância pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Três dias depois, o então deputado federal e hoje presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), subia no plenário da Câmara dos Deputados para defender o ex-capitão Adriano. No discurso, Bolsonaro o descreveu como um “brilhante oficial”.

O júri que condenou Adriano, Martins e o resto do grupo foi anulado meses depois. Todos eles foram absolvidos – mesmo com todas as provas técnicas e periciais coletadas pelo Ministério Público do Rio.

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Executado hoje, Luís Carlos Felipe Martins também foi preso em 2011 em uma operação contra o jogo do bicho. Segundo o Ministério Público do Rio na época, a quadrilha era liderada por Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Waldomir Paes Garcia, o “Maninho”, morto em 2004. O grupo foi acusado de formação de quadrilha armada e tentativas de homicídio qualificado. Shanna foi apontada como a líder da organização criminosa que mantinha a exploração do jogo de caça-níqueis, função exercida após a morte do pai e do marido José Luiz de Barros Lopes, conhecido como Zé Personal.

De acordo com denúncia do MP, Luís Carlos Felipe Martins, o policial civil Carlos Daniel Ferreira Dias e os policiais militares Adriano Magalhães da Nóbrega, João André Ferreira Martins e Marcelo Alves da Silva haviam tentado matar Rogério Mesquita e outras três pessoas na madrugada do dia 10 de maio de 2008 por ordem de Shanna.

O crime foi praticado pela disputa do espólio criminoso do bicheiro Maninho, no qual Rogério Mesquita estaria relacionado por ter sido considerado amigo íntimo do contraventor. Na ocasião, as vítimas conseguiram fugir, apesar de um dos carros que as transportavam ter sido atingido por 37 tiros. Mesquita seria assassinado no ano seguinte, em 24 de janeiro de 2009, com um tiro na nuca disparado por um homem que desceu de uma moto com uma balaclava em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Assassinado hoje, Martins estava há 22 anos na corporação e era lotado no 16º Batalhão da Polícia Militar (Olaria). Tinha 50 anos, deixa esposa e um filho. A PM informou que o comando do 16º Batalhão está prestando apoio à família do policial.

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