Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

MP apura se Vale trocou auditor para liberar barragem de Brumadinho

Para procuradores, mudança em 2018 pode ser indício de que multinacional sabia dos problemas na estrutura e buscou formas de continuar operando

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 8 mar 2019, 13h52 - Publicado em 8 mar 2019, 09h42

A força-tarefa que apura o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), com 193 mortes confirmadas e 115 desaparecidos, põe em primeiro plano agora a investigação sobre o departamento da empresa criado justamente para impedir essas tragédias.

Surgido após o rompimento em 2015 da barragem de Mariana, o maior desastre ambiental do País, o setor de geotecnia da Vale não só teria deixado de agir para reduzir riscos nessas estruturas, como teria trocado empresas e pressionado auditores para obter laudos de segurança, conforme os investigadores.

Essa suspeita motivou um pedido dos Ministérios Públicos Federal e Estadual e das Polícias Civil e Federal para afastar todos os responsáveis da área, além dos principais executivos da Vale, até o próximo dia 10. Na lista estão cinco engenheiros e diretores de Geotecnia, além de Alexandre Campanha, gerente executivo de Governança de Geotecnia Corporativa, e Marilene Christina Araújo, gerente de Gestão de Estruturas Geotécnicas. Nenhum deles, até agora, deixou suas funções e a Vale pode ser responsabilizada criminalmente.

No dia 2, o diretor-presidente Fábio Schvartsman pediu afastamento temporário de suas funções. Na mesma linha agiram Gerd Peter Poppinga, diretor executivo de ferrosos e carvão; Lúcio Flávio Cavalli, diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão; e Silmar Magalhães Silva, diretor de Operações do Corredor Sudeste da Vale. A força-tarefa solicitou que os quatro, Campanha, Marilene e mais três integrantes de postos-chave deixem todas as atividades na Vale. O documento oficial ainda indica a intenção de responsabilizar individualmente os citados pela tragédia.

O principal ponto da análise da força-tarefa é a troca de empresas contratadas pela mineradora para dar laudos de segurança em Brumadinho. A mudança ocorreu em 2018, e pode ser um indício de que a multinacional sabia dos problemas na estrutura e buscou formas de continuar operando.

Continua após a publicidade

Em setembro, a Tractebel, que prestava serviço para a Vale, informou que os dados analisados não permitiam declarar estabilidade da estrutura naquele mês. “Já ouvimos várias pessoas dentro desta linha de investigação”, afirma um integrante da força-tarefa. Em seguida ao comunicado da Tractebel, a Vale informou a essa empresa de auditoria externa que, por essa “divergência”, não mais usaria seus serviços. Foi quando o trabalho acabou assumido pela empresa Tüv Süd, “que se encarregou de emitir a declaração de estabilidade (com fator de segurança inferior às recomendações técnicas)”, cita a força-tarefa.

Um dos engenheiros da Tüv Süd preso durante as investigações, Makoto Namba disse em depoimento à polícia ter sido pressionado pela Vale. A questão sobre a “divergência” e os problemas levantados pela Tüv Süd são os mesmos: água em excesso na barragem, o que é apontado pelos técnicos como a principal hipótese para explicar o desastre.

A promotora Andressa Lanchotti, que coordena a força-tarefa, não comentou a troca das empresas pela Vale, e se limitou a dizer que “as investigações vão muito bem”. Na recomendação enviada à mineradora por ela, promotores, procuradores e delegados, cita-se textualmente que “a área de geotecnia corporativa da Vale atuou de forma sistemática para alcançar declarações de estabilidade de barragens de estruturas que não atendiam aos parâmetros legais e estipulados pela própria empresa”.

Continua após a publicidade

O documento alerta também que o Conselho de Administração e a presidente do Comitê Consultivo Independente, a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie, já haviam sido notificados dos riscos em outras barragens. Mesmo assim, afirma, as medidas de segurança, como a retirada de moradores de áreas de risco, só foram tomadas depois que a Agência Nacional de Mineração (ANM) se posicionou.

Os promotores ainda investigam porque as recomendações de segurança em painéis internacionais, outra das medidas práticas de segurança adotadas pela Vale pós-Mariana, foram ignoradas. Um dos alertas, de outubro, referia-se justamente à barragem que rompeu.

Procurada, a Tractebel informa que “continua contribuindo com as autoridades”. Ela já teria sido ouvida pelos promotores, segundo apurou a reportagem. Também por nota, a Tüv Süd disse que “está investigando minuciosamente seus processos internos”.

Continua após a publicidade

Famílias

Nesta quinta-feira, 7, após a quinta audiência de conciliação com a mineradora, os representantes do MPF, Edmundo Dias, e do MP-MG, André Sperling, reclamaram da morosidade da Vale. “Sempre que é possível um adiamento, eles tentam fazer. Estamos falando de pagamentos emergenciais. Só para conseguir o necessário para que as pessoas sobrevivam tem havido dificuldade”, disse Sperling.

Apesar disso, Dias destacou que houve avanços, como o pagamento de uma cesta básica por núcleo familiar durante 12 meses. Procurada, a Vale não se pronunciou.

Afastamentos

Sob o risco de a força-tarefa até requerer à Justiça a suspensão parcial de suas atividades, a Vale informou que ainda não tem posicionamento a respeito do afastamento dos dez executivos e funcionários. E destacou ter prazo até a próxima segunda-feira, dia 11, para uma decisão. A mineradora enfrenta uma discussão com questões jurídicas e financeiras. Somente para o afastamento definitivo do presidente e dos três diretores, foi calculado gasto de cerca de 80 milhões de reais.

No ano passado, a Vale já enfrentou críticas após a divulgação do pagamento de mais de 50 milhões de reais a seu ex-presidente, Murilo Ferreira. O montante foi pago após o rompimento da barragem de Mariana, em 2015, pelo qual Ferreira ainda responde a processos na Justiça.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.