Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

“Meu filho foi agredido porque tem Down”

A dona de casa paulistana Liegi Bittencourt Feola relata os casos de bullying sofridos pelo filho de 14 anos na escola

Por Liegi Bittencourt Feola
Atualizado em 4 jun 2024, 15h53 - Publicado em 30 ago 2019, 07h40
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Eu estava em casa quando recebi um vídeo apavorante em que aparecia meu filho, Nelson, de 14 anos. A mãe de uma colega dele me mandou as cenas pelo WhatsApp. Era a hora do recreio, meu filho estava com um amigo quando chegou um grupo de garotos do 8º ano, dois anos acima do dele. Ao se aproximarem, eles começaram a xingá-lo. Meu filho ficou nervoso e agarrou a mochila de um deles. Foi então que outros meninos apareceram. Um deles o agarrou por trás enquanto outros dois tomaram de volta a mochila, à força. Jogaram o Nelson no chão. No vídeo dá para escutar os gritos de outros alunos pedindo para soltarem meu filho, mas nada foi feito. O Nelson ficou muito nervoso e tentou correr atrás de um dos meninos. O vídeo terminou aí. Meu filho tem síndrome de Down. Fiquei em choque. Nesse dia, ele tinha chegado em casa normalmente, sem mencionar nada. Foram quase dois minutos de agressão ao meu menino. Mas sei que houve muito mais.

    A sensação que me dá é de tristeza e fúria ao mesmo tempo. O Nelson é um menino muito simpático, carinhoso e ama fazer amigos. É muito calmo. Não há motivo para serem agressivos com ele. O Nelson tem uma irmã mais velha que sempre foi muito agitada, e isso o fez ser mais ativo também. Ele joga videogame, tira selfie, canta, assiste a vídeos no YouTube, ajuda nas tarefas de casa. Interage bem com todos. Eu mesma muitas vezes chego até a esquecer que ele tem Down. Os adolescentes que fizeram isso agiram com preconceito. O Nelson foi agredido apenas porque tem Down.

    Após ter acesso ao vídeo, passei a receber outros relatos de bullying praticado contra ele. Meninos que estudam na mesma sala já bateram na cabeça do Nelson. Uma amiga da escola me contou que esses garotos costumam jogar as coisas dele no chão e o mandam calar a boca. É claro que ninguém pode sofrer bullying, mas quando isso ocorre com uma pessoa especial é ainda mais terrível. Eu tinha escolhido uma escola regular, pública, porque haviam prometido um acompanhamento de perto. De fato, ao longo dos quatro primeiros anos em que ele estudou lá, as coisas andaram bem. Os problemas só começaram recentemente. As crianças mais novas não têm preconceito nem são agressivas. Depois fica tudo mais difícil.

    Procurei a escola no mesmo dia em que vi o vídeo. A diretoria alegou não saber do ocorrido e se prontificou a tomar as medidas cabíveis, como conversar com os pais dos meninos envolvidos. O caso foi levado à delegacia, e lá me disseram que os provocadores serão chamados à Vara da Infância e Juventude. Fiz tudo o que podia fazer. O Nelson chegou a ir à escola nos dias seguintes, mas não quero mais que ele retorne. Decidi transferi-lo. No novo colégio, privado, já me disseram que ele terá apoio psicológico. Acredito que meu filho ainda não entenda bem o que aconteceu e o que está acontecendo. Ele viu as imagens no meu celular e ficou muito triste. Mas sinto que está feliz com a troca. O Nelson precisa do contato com outras crianças. É ciente de suas dificuldades pedagógicas, fica frustrado por não conseguir ir além e comemora cada pequena tarefa realizada. Tenho medo de que no futuro ele passe novamente por tudo isso. Seja onde for. Não estou esperando que me procurem para pedir desculpas. Quero somente que os pais desses meninos mostrem o erro que os filhos cometeram e ensinem a eles o respeito, para que outras crianças, especiais ou não, não passem mais por isso. Que esta minha história seja assunto de muita discussão sobre bullying nas escolas e nas casas. Sei que o mundo é cruel e há grandes possibilidades de que ele enfrente preconceito mais adiante. A sociedade ainda não está preparada para inclusões.

    Depoimento dado a Leticia Passos

    Publicado em VEJA de 4 de setembro de 2019, edição nº 2650

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.