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Marcha branca e silenciosa para Santa Maria

Em uma passeata marcada pela emoção, cerca de 30 mil pessoas foram às ruas da cidade gaúcha para homenagear as vítimas da tragédia que abalou o Brasil

Por Marcela Donini e Luís Bulcão, de Santa Maria
29 jan 2013, 03h28
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  • Atualização: Em 31 de janeiro de 2013, o número de mortos era de 236 pessoas. Segundo o Ministério da Saúde, 143 vítimas ainda estavam internadas, mais de oitenta em estado crítico.

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    Talvez nada seja mais comovente do que uma multidão em silêncio. Foi assim, sem ensaio, sem cordões policiais, sem ninguém para orientar, que cerca de 30.000 pessoas percorreram ruas centrais de Santa Maria por mais de uma hora e meia para homenagear as vítimas da tragédia que chocou o mundo. Apenas manifestações esporádicas em diversos pontos da massa de pessoas, como a execução da Ave Maria por dois violinos em uma praça ou brados por justiça em outro ponto da marcha, rompiam o silêncio e logo eram seguidas por palmas, que eram repetidas, como se um eco percorresse todas as ruas tomadas. Não havia conversa. Só emoção.

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    Infográfico: Entenda como aconteceu a tragédia em Santa Maria

    O convite se espalhou pelas redes sociais. Vestidos de branco e portando balões e lanternas – velas foram evitadas para não fazer referência ao fogo -, a massa saiu da Praça Saldanha Marinho e fez sua primeira parada a poucas quadras dali, em frente à boate Kiss. Muitos encheram de flores a calçada que na manhã anterior serviu de leito para os corpos. A marcha seguiu, tomando conta da extensa Avenida Presidente Vargas. Não havia fim no horizonte, nem para um extremo, nem para o outro. Nos cruzamentos, carros e motos aguardavam calmamente. Não havia ninguém fechando as ruas, nenhum guarda. Somente a multidão passando, impávida e espontânea. Seu destino era o Centro Desportivo Municipal, onde foram reconhecidos os corpos das vítimas.

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    Galeria de fotos: Conheça as vítimas do incêndio na boate Kiss

    Durante o trajeto, as pessoas acenavam do alto de prédios. Em frente a uma clínica, era possível ver médicos e enfermeiros no peitoril das janelas, sentindo que aquele gesto também se estendia a eles, àqueles que ajudaram, que trabalharam incessantemente para salvar vidas, prestar apoio. Uma grandiosa manifestação – mais uma entre as tantas cenas de solidariedade protagonizadas pelo povo de Santa Maria – que mostrava que a cidade, em sua imensa e irreparável dor, está junta.

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    Luto entre os calouros de Educação Física – A turma do primeiro semestre de Educação Física da Universidade Federal de Santa Maria não está mais completa. O grupo que se formou em outubro, devido à última greve de professores, já sente a falta de Maicon Douglas Moreira Iensen, morto no incêndio. O menino, que havia completado 18 anos em 3 de janeiro, ainda vivia em Itaara, cidade de 5.000 habitantes distante 14 quilômetros de Santa Maria.

    Com as camisetas azuis do curso sobre os ombros, os colegas se diferenciavam dos outros manifestantes que vestiam apenas branco. Diego Santos Antunes, 19 anos, conta que ninguém mais da turma estava na festa porque preferiram se poupar para a prova de bioquímica marcada para esta segunda-feira, além de um campeonato que aconteceria no domingo. “Desde o início, andávamos bastante juntos. Está todo mundo chorando por ele, foi muito triste”, disse.

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    Dois aniversários – Rafaela Schimidt Nunes, 18 anos, não gostava de ir à Kiss, preferia outro estilo de música. Mas abriu uma exceção porque havia dois amigos que comemoravam seus aniversários naquela noite. Rafaela e pelo menos um dos aniversariantes perderam a vida na boate. A prima Patrícia Nunes marchou por todo o trajeto da caminhada da paz ao lado de outros familiares e dos pais de Rafaela. Seguiam em silêncio, erguendo cartazes que exibiam fotos da menina e pedidos por justiça.

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    Um herói gremista – Foi assim que os amigos definiram Marcelo de Freitas Salla Filho, 20 anos, que perdeu a vida na boate Kiss depois de já ter saído ainda com vida. Ele retornou ao interior da casa para resgatar o irmão, Pedro, 17 anos. Ambos morreram na tragédia. Na caminhada da paz, cerca de 10 torcedores gremistas carregavam uma faixa que tomava toda a largura da Avenida Presidente Vargas. Nela, estavam os nomes de Marcelo e outro companheiro tricolor, Leandro Nunes.

    Os dois faziam parte da torcida organizada da cidade. “O Marcelo era quem puxava a nossa torcida. Tava sempre junto, viajava para acompanhar o time. Fizemos essa homenagem pensando muito na mãe dele e do Pedro, que eram seus únicos filhos”, conta o amigo Osni Maciel Junior, 21 anos.

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