Lula defende no U20 cidades mais sustentáveis e desiguais e lembra assassinato de Marielle Franco
Durante o encontro que reuniu prefeitos das maiores potências mundiais, o presidente ainda manifestou seu repúdio a ataques indiscriminados na Faixa de Gaza
Em seu discurso no Urban 20 (U20), o fórum dos prefeitos das maiores economias do mundo, na manhã deste domingo, 17, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou que o combate às desigualdades, à fome e à pobreza é essencial para o desenvolvimento sustentável passa por cidades mais inclusivas e seguras. Na sequência, lembrou a emblemática morte da vereadora Marielle Franco, em março de 2018. “Estamos a apenas dez quilômetros da favela da Maré, berço da vereadora Marielle Franco, barbaramente assassinada por sua luta pelo direito à cidade e pelos direitos humanos – a quem rendo a minha homenagem”, enfatizou.
No evento, que contou com a participação de delegações de mais de 100 cidades, e teve como anfitrião Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, Lula ainda ressaltou que um quarto dos habitantes do planeta vive em assentamentos precários, como favela onde morou Marielle. “No Brasil, as mulheres negras são maioria nesses territórios. Seus filhos são as maiores vítimas da desigualdade e da violência urbana, que todos os anos cobra um número de vidas semelhante aos das guerras mais violentas”.
Nesse momento, o presidente aproveitou para defender um novo pacto federativo, com o envolvimento de todos os poderes, “para colocar a segurança pública como prioridade nacional e manter nossa juventude viva”. Ao citar o maior programa habitacional do governo federação, o Minha Casa, Minha Vida, voltou a citar a vereadora assassinada: “A luta de Marielle por uma cidade mais inclusiva, uma educação pública transformadora, e pelo acesso a todos a um serviço público de qualidade é imperativa para criar cidades sustentáveis e que atendam às necessidades de todos”.
Em seu discurso no encontro dos prefeitos U20, às vésperas da Cúpula de Líderes do G20, Lula ainda ressaltou que o planejamento urbano terá um papel crucial na transição ecológica e no enfrentamento à mudança do clima – segunda prioridade do nosso G20. Lembrou que as cidades são responsáveis por 70% das emissões de gases de efeito de estufa e 75% do consumo global de energia. Citou os desastres ambientais recentes no Sul do Brasil, na Colômbia e as enchentes recentes na Espanha. “A ação climática pode servir como ferramenta para uma agenda urbana mais ampla de inclusão e justiça social. A transição ecológica é uma oportunidade valiosa de gerar emprego e renda para a juventude nos grandes centros urbanos”, disse.
Lula também afirmou que uma das prioridades da presidência brasileira do G20 é a reforma da governança global, inclusive de sua arquitetura financeira e dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento. Ele destacou que não será possível construir uma Nova Agenda Urbana sem investimento e sem governança multilateral adequada. O presidente citou o trabalho da brasileira Ana Cláudia Rossbach à frente da ONU-Habitat e lembrou que sua liderança será central para apoiar governos nacionais e locais a enfrentar a crise urbana, com base em políticas públicas sólidas e amparadas na ciência.
O presidente aproveitou o encontro com os prefeitos das maiores potências mundiais para manifestar seu repúdio aos conflitos entre Israel e a Palestina. “Falar em reforma da governança também implica em repudiar a destruição das guerras. A Faixa de Gaza, um dos mais antigos assentamentos urbanos da humanidade (4000 A.C), teve dois terços de seu território destruídos por bombardeios indiscriminados”, destacou. Em seguida completou: “80% de suas instalações de saúde já não existem mais. Sob seus escombros jazem mais de 40 mil vidas ceifadas. Não haverá paz nas cidades se não houver paz no mundo”
Ao longo do discurso, Lula mencionou megalópoles como Nova York, Santiago, Paris e Rio de Janeiro, afirmando que estas produzem mais riquezas do que muitos países inteiros. “Ao mesmo tempo, vilarejos empobrecidos lutam contra o êxodo de jovens para se manterem vivos e viáveis financeiramente. Nas cidades os adjetivos costumam ser superlativos. E os contrastes também”, disse. Ele citou que estes contrastes são particularmente verdadeiros na América Latina, que, segundo o PNUD, é o continente mais desigual do mundo e experimentou uma das urbanizações mais aceleradas da História.