Nem a queda dos preços internacionais das commodities agrícolas nem a valorização do real frente ao dólar serão suficientes para frear o ímpeto do agronegócio brasileiro em 2023. Responsável por algo em torno de 25% do PIB brasileiro, o agronegócio movimenta uma cadeia produtiva que abrange desde insumos, produção e venda até distribuição de alimentos in natura ou processados e responde por 22% dos empregos do país.
Neste ano, o crescimento do setor se dará, principalmente, pela safra recorde de grãos e pelas exportações do agronegócio. O PIB do setor terá uma expansão de 14,8% em 2023, de acordo com estimativa da consultoria econômica MB Associados, que calcula um crescimento de 3% para a economia brasileira no ano. “Nos últimos anos, o agronegócio não parou de crescer, enquanto os outros setores encolheram”, diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, fundador da MB Associados. “A renda gerada pela agricultura aumentou espetacularmente e extravasou para outros segmentos, por exemplo, mediante gastos de consumo. Só espero que a indústria volte a ter expansão, para que haja mais equilíbrio no crescimento do país.”
Para este ano, o Ministério da Agricultura projeta um aumento de 2,4% no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), chegando a 1,142 trilhão de reais — a agricultura deverá contribuir com 804 bilhões e a pecuária, com 338 bilhões de reais. A safra 2022-2023 é estimada em 322,8 milhões de toneladas — um avanço de 18,4% em relação à safra passada, segundo o levantamento mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “A tendência é que os preços, em 2024, estejam menores do que os deste ano, mas ainda superiores ao patamar pré-pandemia”, afirma Roberto Rodrigues, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-ministro da Agricultura. Para ele, o Brasil terá um papel cada vez mais importante não somente para a segurança alimentar, mas também para as questões climática e energética.
No horizonte de dez anos, as projeções para o agronegócio brasileiro são positivas em função das exportações, de acordo com Marcos Jank, professor de agronegócio no Insper e coordenador do centro Insper Agro Global. “O Brasil responde por 8,4% das exportações mundiais do agronegócio, nas quais tem crescido mais do que os concorrentes”, diz Jank. Segundo ele, o país poderá
até ultrapassar os Estados Unidos no embarque de boa parte dos produtos que exporta atualmente.
Os especialistas apostam que o agronegócio brasileiro continuará a ter crescimento muito mais ancorado no aumento da produtividade do que na expansão de áreas ocupadas. “De hoje até 2035, o Brasil responderá por, no mínimo, 25% do aumento da produção de alimentos no mundo”, prevê Mendonça de Barros.