A denúncia feita nesta terça-feira, 22, pelo Ministério Público do Rio contra o PCS Lab Saleme, laboratório envolvido no escândalo das infecções por HIV após transplantes de órgãos, mostrou que a negligência não era “uma novidade” na empresa — ou seja, não se restringe a esse caso. Além de determinar a prisão preventiva de seis pessoas ligadas à clínica, o documento listou outras práticas irregulares do local que levaram a erros. Entre eles, um diagnóstico de falso positivo para o vírus da aids a uma mãe, o que a impediu de amamentar sua filha recém-nascida.
No documento, a promotora Elisa Ramos Pittaro Neves reforça a principal tese defendida pela polícia, de que a negligência com os protocolos de segurança no laboratório foi motivada “tendo como única preocupação o dinheiro” — ou seja, pela economia com os custos de tais práticas, o que levou aos erros nos diagnósticos dos dois doadores, que não tiveram o vírus HIV detectado.
Ao ressaltar outros erros da clínica, cita um ocorrido no ano de 2017, que se transformou em uma condenação por danos morais, em razão de outro laudo errado. Uma paciente foi diagnosticada pelo laboratório, na época, como portadora do vírus HIV. A partir disso, começou a receber o coquetel de medicamentos contra a doença, e foi impedida de amamentar a filha recém-nascida. “Posteriormente foi descoberto que o resultado do exame era falso”, destaca a denúncia.
Ainda segundo a promotora, as filiais do PCS Lab Saleme “não possuíam sequer alvará e licença sanitária para funcionamento”. “O relatório de inspeção da vigilância sanitária anexado nos autos constatou 39 não conformidades, entre elas a presença de sujeira, de insetos mortos e formigas em todas as bancadas do laboratório”.
“É cediço no ambiente médico-hospitalar que o controle de qualidade da sorologia para a realização dos exames de anatomia patológica deveria ser realizado diariamente para evitar resultados falsos. Porém, a partir do início do ano de 2024, o controle de qualidade dos exames do PCS LB SALEME passou a ser realizado de forma semanal, estando todos os denunciados plenamente conscientes de que os reagentes ficam degradados por permanecerem muito tempo na máquina analítica. Mas, ainda assim, permaneceram realizando exames e elaborando laudos nestas condições, para reduzir os custos dos exames e para permanecerem com seus empregos”, diz ainda o documento.
Mesmo diante de um histórico de erros, a promotora Elisa Ramos Pittaro Neves destaca que a empresa foi contratada pela Fundação Saúde “para a realização de exames de análises clínicas e de anatomia patológica” pelo período “de 12 (doze) meses, conforme contrato nº 571/2023 que foi anexado aos autos”.
Além do inquérito que corre na Polícia Civil, a investigação no MPRJ foi conduzida pela promotora, da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada dos Núcleos de Duque de Caxias e Nova Iguaçu. Foi ela a responsável por denunciar o grupo ligado ao laboratório por associação criminosa, lesão corporal grave e falsidade ideológica.
Até esta terça, a maior parte dos seis alvos já estavam presos temporariamente: Walter Vieira, sócio da clínica, Ivanilson Fernandes dos Santos, Jacqueline Iris Barcellar de Assis e Cleber de Olveira Santos, funcionários do local, além de Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora do laboratório. Nesta quarta-feira, 23, Matheus Vieira, outro sócio da empresa, se entregou pela manhã.