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Jairo Nicolau

Por Irene Ruberti
28 jul 2008, 19h16

É impossível pensar as atuais campanhas eleitorais sem as pesquisas de opinião. Pelo menos uma vez por semana, algum instituto apresenta novos dados sobre a corrida eleitoral. E esses números têm sido decisivos para a escolha do eleitor, para os correligionários dos candidatos e para os financiadores de campanha; afinal, concentrar doações para candidatos sem chances de vitória parece não ser uma decisão razoável.

A divulgação maciça de pesquisas tem gerado duas reações opostas. Para alguns, os números que são divulgados conquistam um status de verdade absoluta. Após saber dos dados, estes acreditam que se a eleição fosse hoje a candidata do PC do B em Belo Horizonte chegaria mesmo em primeiro com 20% dos votos, ou que a candidata do PT em São Paulo venceria o primeiro turno com 34 % dos votos.

A outra atitude é a de enorme desconfiança das pesquisas. Seja com relação aos métodos utilizados, seja com as possíveis manipulações dos resultados. A desconfiança com o princípio da amostragem que guia a pesquisa de opinião é clássica: como entrevistando 1000 eleitores posso acertar o voto de milhões? Os rumores sobre manipulação dos dados pelos institutos (e até pelos órgãos de imprensa) são sempre repetidos, mas até hoje nunca comprovados.

Esta coluna tentará ajudar o eleitor a olhar mais cuidadosamente as pesquisas de opinião. Além da análise do significado político dos números que serão divulgados nos próximos meses, meu propósito é responder uma série de perguntas, que sei, atormentam alguns cidadãos: O que é margem de erro? Como os institutos brasileiros fazem as suas pesquisas? O que é um empate técnico? É possível confiar nos resultados de uma pesquisa que ouviu um numero tão reduzido de eleitores?

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* * *

Não é uma tarefa simples convencer alguém de que o tamanho da amostra de uma pesquisa não tem nada que ver com o tamanho da população a ser pesquisada. Como é possível que um instituto entreviste 1000 pessoas na cidade do Rio de Janeiro, que tem cerca de 4,6 milhões de eleitores, e as mesmas 1000 entrevistas em Niterói, que tem 354 mil eleitores? No Rio de Janeiro cada entrevistado representa 4600 eleitores, enquanto em Niterói representa 354. Não parece mesmo fazer muito sentido. Mas faz.

A inexistência de relação entre o tamanho da amostra e o tamanho da população já foi comprovada por rigorosos testes estatísticos. Uma imagem culinária pode-nos ajudar a entender o princípio que guia as pesquisas por amostra. Imagine um cozinheiro de um restaurante que prepara uma sopa de legumes. Ele precisa apenas provar uma ou duas colheres para perceber se a sopa está ou não no ponto, independentemente do tamanho da vasilha em que a sopa está sendo preparada. Como veremos, as pesquisas de opinião são sujeitas a uma série de erros, e isso pode comprometer os seus resultados. É como se o nosso cozinheiro acrescentasse sal, e tirasse uma prova da sopa sem antes ter mexido a panela. Ou se usasse uma pequena colher incapaz de conter todos os legumes utilizados na sopa.

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As eleições americanas de 1936 ilustram bem os tipos de erros e acertos que podem ser cometidos em pesquisas eleitorais. Naquele ano o presidente democrata Franklin Roosevelt concorria a reeleição, contra Alf Landon, candidato republicano. Uma revista, a Literary Digest, era famosa por acertar o resultado de todas as disputas presidências desde 1916. Em 1936 a revista enviou por correio mais de 10 milhões de cédulas para as residências americanas, e recebeu de volta 2,4 milhões de respostas. O resultado da pesquisa era inquestionável: vitória de Landon por 57% contra 43% de Roosevelt. Na realidade, Roosevelt saiu vitorioso com 62% dos votos, contra 38%.

Por que Literary Digest errou desta maneira, justamente quando conseguiu realizar a maior pesquisa de opinião já realizada? O problema é que as respostas obtidas pela revista não eram representativas do eleitorado americano. A lista de 10 milhões de nomes foi organizada a partir da listagem dos proprietários de telefone (na época apenas um em cada quatro americanos tinha telefone), membros de clubes e portadores de carteira de motorista (também um luxo). Ou seja, a listagem representava, sobretudo, os segmentos mais abastados da sociedade americana, eleitores de Alf Landon.

No mesmo ano, um jovem chamado George Gallup utilizou uma amostra bem menor (50 mil eleitores) e previu que Roosevelt receberia 56% e Landon 44%. Diferentemente da pesquisa da Literary Digest, Gallup utilizou uma amostra representativa do eleitorado americano. Talvez não seja coincidência que a revista encerrou suas atividades alguns meses depois, e o Gallup Institute tenha se tornado a mais prestigiosa empresa de pesquisa dos Estados Unidos.

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Desde então as pesquisas feitas nos Estados Unidos tornaram-se cada vez mais sofisticadas e precisas. Para se ter uma idéia, os erros do Instituto Gallup nas três últimas eleições presidenciais americanas foi de no máximo 2,8 pontos porcentuais.

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