Enquanto caminha rapidamente rumo à marca dos 10.000 mortos por Covid-19, o Brasil vive uma quarentena em descompasso, como mostra a reportagem de capa de VEJA desta semana. A discórdia sobre o isolamento social, que opõe o presidente a boa parte dos governadores, fez do país um campeão mundial de bagunça no enfrentamento da doença e o colocou em uma encruzilhada na qual nem as atividades econômicas funcionam, nem o avanço do novo coronavírus é combatido corretamente. A polarização política da pandemia, como mostra pesquisa exclusiva do instituto Paraná Pesquisas, reflete-se na população: os brasileiros estão divididos ao meio sobre manter o isolamento social independentemente do impacto na economia – a esmagadora maioria da população disse ter sido afetada financeiramente pela crise.
Por meio de questionários online entre os dias 5 e 8 de maio, o levantamento consultou 2.200 pessoas com 16 anos ou mais, nos 26 estados e no Distrito Federal, sobre se elas manteriam o isolamento social pelo tempo que fosse preciso para “achatar” a curva de contágio, conforme prega a Organização Mundial de Saúde (OMS), a despeito dos impactos econômicos da medida: 49,9% responderam que sim e 45,5% responderam que não. Outros 4,5% não souberam ou não opinaram.
Embora os brasileiros favoráveis à quarentena ainda sejam maioria – mesmo considerada a margem de erro, de dois pontos percentuais –, a diferença em relação aos contrários vem diminuindo. No levantamento feito em abril, 53,2% defendiam o isolamento social enquanto 42,7% diziam o oposto. Enquanto a adesão à quarentena cai, governadores passam a decretar ou estudar impor o lockdown, conjunto de medidas mais duras de isolamento.
Na pesquisa mais recente, 44,6% dos homens e 54,7% das mulheres se disseram a favor do isolamento. Entre aqueles que defendem a quarentena, os maiores índices foram atingidos entre pessoas com 60 anos ou mais (61,6%), os que têm o ensino fundamental completo (52,3%), os que estão fora da população economicamente ativa (57%) e os moradores das regiões Norte e Centro-Oeste (53,8%)
Na posição contrária ao isolamento, os maiores índices registrados estão na faixa etária entre 25 e 34 anos (52,1%), os que estudaram até o ensino médio (48,7%), os integrantes da população economicamente ativa (49,6%) e os moradores da região Sul (48,3%).
Economia
Apesar da divisão próxima entre os posicionamentos pró e anti-quarentena, considerando seus desdobramentos econômicos, a grande maioria dos entrevistados (82,8%) respondeu ter sido financeiramente impactada pela crise do coronavírus. Destes, 38,1% se dizem muito impactados (eram 33% em abril), 22,5% consideraram os efeitos normais para uma crise (eram 19,5%) e 22,3%, pouco afetados (eram 29,4%). Os que responderam não ter sofrido qualquer reflexo nas finanças são 15%, enquanto 2,2% não sabem ou não opinaram.
Os que mais relataram impactos econômicos são os homens (83,3%), pessoas entre 25 e 34 anos (83,7%), os que estudaram até o ensino fundamental (84,7%), trabalhadores incluídos na PEA (84,4%) e moradores do Nordeste (84,6%).
O instituto também perguntou aos entrevistados sobre o medo de serem infectados e obteve 66,5% de respostas afirmativas e 30,3% de negativas. Os que temem a doença são maioria nos dois gêneros, em todas as faixas etárias,os níveis de escolaridade, em qualquer situação econômica e nas cinco regiões do país. Em relação à pesquisa anterior, o número dos que dizem ter medo subiu 5,9 pontos percentuais.
Entre as mulheres, 68,8% disseram ter medo de ser contaminadas, número que é de 64% entre os homens. Os índices mais altos entre os que temem a Covid-19 vieram das pessoas com 60 anos ou mais (74,8%), as que têm ensino superior completo (70,7%) e as moradoras do Sudeste (69,2%). Os que mais dizem não ter medo estão na faixa etária de 16 a 24 anos (33,8%), estudaram até o ensino médio (31,7%) e vivem no Sul do país (35,2%).
Hábitos
A pesquisa ainda obteve dados sobre o comportamento do brasileiro durante a quarentena: 86% disseram ter alterado hábitos ou costumes por causa do coronavírus, 64,9% responderam não ter se exercitado durante o isolamento social, 17,4% relataram aumento de consumo de bebidas alcoólicas, 43,4 tiveram crises de ansiedade, depressão ou problemas psicológicos e 66,9% avaliam que a hiperconvivência com familiares ou companheiros de moradia não piorou nem melhorou o relacionamento.