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Igreja carioca de 300 anos recupera relógio parado há um século

Inativa desde 1922, relíquia da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores voltará a funcionar em agosto

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 ago 2023, 18h18 - Publicado em 7 ago 2023, 17h49

Em 1743, comerciantes e moradores da tradicional Rua do Ouvidor decidiram erguer um oratório onde colocaram as imagens do Menino Jesus e de Nossa Senhora da Lapa. A pequena construção inaugurou um período de prosperidade para os negociantes, que atribuíram as bênçãos à Santa Mãe, e alimentou o desejo de se construir um templo: a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, cuja história, que vem sendo recuperada agora, se mistura com a da cidade do Rio de Janeiro.

Apesar de seus quase 300 anos de idade, o templo entrou em declínio e passou por períodos pouco alvissareiros. Os sinos, presenteados pelo Barão da Lagoa, que não economizou no regalo e ofereceu o primeiro carrilhão de 12 sinos do Brasil, em 1872, não dobravam há mais de cinco décadas. O relógio, outra relíquia, já não marcava o passar do tempo há mais de um século, desde 1922. A Igreja chegou a ser interditada pela Defesa Civil, em 2020, devido ao seu péssimo estado de conservação. 

 

No entanto, novos ares parecem circular. Protagonizando um projeto da Arquidiocese do Rio de Janeiro, que criou uma comissão de patrimônio para tentar reativar templos históricos, a Igreja da Lapa vem passando por um novo alvorecer. Seus sinos anunciam os novos sinais dos tempos desde o dia 2 de maio, quando voltaram a tocar de hora em hora, depois de uma minuciosa restauração feita pelo famoso Manoel dos Sinos, um dos últimos especialistas em relógios e sinos de igreja do país. 

Agora, também, o relógio deixará de estar certo apenas duas vezes por dia, como todo relógio parado, e passará a contar a passagem do tempo. “Colocar o relógio para funcionar é extremamente simbólico para mim”, diz Cláudio André Castro, comissário administrativo da Irmandade, que vem tocando a recuperação da Igreja desde março de 2023 e foi o responsável pela sua reabertura. “Isso porque, quando eu cheguei na Igreja, vi que estava em um lugar onde o tempo parecia ter parado.”

Imagem Antiga da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. Data desconhecida. A Igreja passa por um processo de revitalização e recuperação desde março de 2023 -
Imagem Antiga da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. Data desconhecida. A Igreja passa por um processo de revitalização e recuperação desde março de 2023 – (Acervo Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores/Reprodução)

A restauração será concluída ainda este mês e também vem sendo conduzida por Manoel dos Sinos com peças encomendadas da Canonico Di Lagonegro, a maior empresa de relógios de torres e igrejas da Itália, em atuação desde 1879. A expectativa é que o relógio funcione 24 horas por dia e, embora tenha ganhado ponteiros e engrenagens novas e modernas, conserve a mesma aparência histórica que sempre marcou a fachada. “Queremos que ele funcione exatamente como funcionava há um século. Será como voltar no tempo”, diz Manoel dos Sinos. Um sistema informatizado deve ligar o funcionamento dos relógios ao dos sinos, com perfeita sincronia entre a movimentação dos ponteiros e o toque.

As obras de revitalização realizadas agora derrubam a ideia de “obra de igreja”, que geralmente remete a obras que se prolongam por um longo período, e recuperam a tradição de celeridade. No século XVIII, as obras para a construção da Igreja caminharam num ritmo veloz para empreendimentos desse tipo. As fundações foram feitas em 1747, e em 1750 a parte destinada à celebração das missas já estava pronta. As obras continuaram até 1755 e a decoração interna, em estilo rococó, ficou pronta em 1766. No século XIX, o templo passou por uma remodelação que durou uma década (de 1869 a 1879). 

Em 1893, oficiais da Marinha, sentindo-se menos prestigiados que os colegas do Exército, iniciaram um movimento contra o Marechal Floriano Peixoto. Estava iniciada a Revolta da Armada. Uma bala de canhão, disparada pelo famoso encouraçado Aquidabã, atingiu em cheio a torre sineira, derrubando a imagem em mármore de Nossa Senhora da Lapa de uma altura de 25 metros. Apesar do impacto, a santa quebrou apenas alguns dedos. O acontecimento marcou o primeiro registro de bala perdida da história do Rio de Janeiro, visto que não era a intenção atingir a imagem e sim o Palácio do Itamaraty, então sede do governo. A santa e a bala de canhão seguem à mostra na Igreja até hoje.  

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“A gente associa a resiliência da Santa com a resiliência do carioca e do centro do Rio”, diz Castro. “O centro da cidade vem experimentando um franco processo de revitalização e a Igreja emerge como um símbolo disso. Queremos que o relógio seja o marco de um novo tempo, para a Igreja, para a cidade e para o centro do Rio”. 

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