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Flávio Bolsonaro estava muito preocupado com Queiroz, diz Paulo Marinho

Em depoimento sigiloso, empresário contou como o filho do presidente arquitetou um plano para conter o escândalo das rachadinhas

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jun 2020, 11h18 - Publicado em 19 jun 2020, 09h57
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  • O senador Flávio Bolsonaro disse que encarava “com tranquilidade” a prisão do seu ex-assessor Fabrício Queiroz na manhã de quinta-feira, 18. “A verdade prevalecerá”, escreveu o parlamentar no Twitter. Apesar de afirmar em público que está calmo, o filho mais velho do presidente se mostrou nos bastidores “muito preocupado com a possibilidade desse fato causar um dano ao governo do pai dele”, segundo relatou o empresário Paulo Marinho em depoimento prestado à Polícia Federal.

    Ex-aliado convertido em desafeto da família Bolsonaro, Paulo Marinho compareceu à sede da Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro no dia 20 de maio para contar detalhes do início do caso Queiroz. Na presença de um delegado, um procurador e um advogado, o suplente do senador Flávio Bolsonaro contou, ao longo de mais de cinco horas, como foi arquitetado um plano para conter danos causados por escândalo envolvendo o ex-assessor do filho mais velho do presidente. O documento com as declarações do empresário, revelado pela edição atual de VEJA, está em posse de investigadores do Rio – e faz parte de um inquérito que apura a suspeita de vazamento de uma operação da PF.

    O empresário contou em seu depoimento que, entre o primeiro e o segundo turnos da eleição de 2018, três assessores de Flávio foram avisados por um delegado de que seria deflagrada uma operação, batizada de Furna da Onça, que alcançaria Queiroz e familiares dele empregados nos gabinetes da família Bolsonaro. A operação teria sido adiada para depois da votação, a fim de não atrapalhar a campanha de Jair Bolsonaro, conforme relato do tal delegado. Com base nessas informações, Jair e Flávio demitiram o ex-assessor e seus parentes, numa tentativa de se antecipar às revelações das transações financeiras milionárias de Queiroz, finalmente tornadas públicas em dezembro de 2018, quando o ex-capitão já estava eleito presidente da República. Marinho reforçou as acusações feitas em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo e narrou mais detalhes à Polícia Federal desse enredo que testemunhou em sua casa, numa reunião com o próprio Flávio.

    “O senador Flávio Bolsonaro começou relatando que estava muito preocupado com a questão Queiroz”, afirmou o empresário. Em outro trecho, Marinho ressaltou que o senador “ficou emocionado e chegou a lacrimejar”. Ao final daquela reunião, ficou acertado que Queiroz precisaria de um advogado. Marinho ainda relatou que ligou para o seu amigo Gustavo Bebianno, à época braço direito do presidente, para informar o que havia sido discutido na reunião. De acordo com o empresário, Bebianno teria dito que conversou sobre Queiroz reservadamente com Bolsonaro dentro de um banheiro no gabinete de transição do governo, em Brasília, e que o presidente o orientou a viajar ao Rio de Janeiro para acompanhar de perto o caso do ex-policial militar. Marinho contou ainda que ele, Flávio e Gustavo Bebianno decidiram contratar um advogado para resolver a situação.

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    Para provar a sua acusação, Marinho apresentou aos investigadores registros de sua agenda no celular, passagens aéreas para São Paulo e uma ordem de serviço de uma sala reservada no hotel onde ocorreu a segunda reunião entre os advogados. Além disso, em seu depoimento, o empresário apontou alguns caminhos para a apuração dos fatos como registros de chamadas telefônicas recebidas pelo gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e imagens de câmeras de segurança de sua residência e da Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro.

    Além desse depoimento, Marinho também está colaborando com as investigações de um inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura se o presidente da República interferiu na Polícia Federal. A investigação foi instaurada pela Procuradoria-Geral da República após o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ter acusado Jair Bolsonaro de tentar mudar a cúpula da PF para conseguir acesso a relatórios de inteligência. O ex-juiz da Lava-Jato disse que o presidente tinha uma preocupação em mudar a chefia da corporação no Rio de Janeiro, onde foram dados os primeiros passos nas apurações que resultaram no escândalo das rachadinhas. Como previu Flávio, Queiroz causou um dano profundo ao governo. Sobretudo após ser preso numa casa de Frederik Wassef, advogado do senador e do presidente. As rachadinhas chegaram à rampa do Palácio do Planalto.

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