Família de catador morto pelo Exército irá à Justiça por indenização
Luciano Macedo deixou esposa, de 27 anos, grávida de cinco meses; ele foi a segunda vítima dos oitenta tiros disparados por militares em ação no Rio
Segunda vítima fatal dos oitenta tiros disparados por militares do Exército brasileiro durante ação de policiamento no Rio de Janeiro, o catador de recicláveis Luciano Macedo, de 28 anos, faleceu nesta quinta-feira, 18. Grávida de cinco meses, a viúva de Luciano, Taiana, de 27 anos, e a mãe, Priscila, irão à Justiça contra a União por indenização e pensão.
A informação foi confirmada a VEJA pela assessoria de imprensa do advogado João Tancredo, que presta apoio jurídico aos familiares do catador. A expectativa do defensor é do esclarecimento do caso, de modo a delinear as responsabilidades sobre o ocorrido. De toda forma, existe o entendimento de que os militares atuavam pelo Exército – ou seja, em nome do estado.
No último dia 7, um grupo de militares abriu fogo contra o carro do músico Evaldo dos Santos Rosa, que ia com a família para um chá de bebê. O veículo foi confundido com outro, guiado por assaltantes. Evaldo morreu na hora. Luciano Macedo se aproximou do veículo para ajudar a família do músico a deixar o carro quando também foi atingido.
O teólogo Antonio Carlos Costa, da ONG Rio de Paz, diz que Taiana e Priscila não receberam apoio de entidades públicas ao longo dos onze dias de internação. A organização está promovendo uma arrecadação de recursos em prol da família. “A família está desamparada. A sociedade civil, mais uma vez, está fazendo o que o estado não fez. Nós já arrecadamos 12.000 reais para ajudar com hospedagem, alimentação e com o enxoval do bebê”, contou a VEJA.
Hospital
Na noite de terça-feira, a Justiça do Rio determinou a transferência de Luciano Macedo do Hospital Carlos Chagas para um outro equipamento público, o Hospital Moacyr do Carmo, onde ele poderia ter maiores chances de sucesso em uma cirurgia no pulmão, área atingida pela bala disparada.
Ontem, uma nova decisão foi proferida no final da tarde, dando um prazo de 24 horas para que a transferência ocorresse. Se nenhum hospital público com condições fosse encontrado, ele deveria ser removido para um hospital particular. A transferência nunca chegou a acontecer e ele foi operado no próprio hospital onde estava, falecendo na madrugada desta quinta-feira após complicações.
A Secretaria de Saúde do Rio afirma que a remoção não foi realizada em virtude do estado de saúde de Luciano, que não possibilitaria as condições mínimas de transporte. O escritório de advocacia que apoia a família pretende pedir a apuração do ocorrido e, de acordo com os resultados, eventualmente buscar a responsabilização legal pelo descumprimento da decisão judicial.