A histeria sobre a cloroquina durou pouco. Assim como desapareceu das prateleiras das farmácias, o remédio também sumiu do debate político. Alçado à possível cura para a Covid-19 pelo presidente Jair Bolsonaro – “Deus é brasileiro e a cura tá aí” -, o remédio ganhou até torcida organizada entre os seus apoiadores. Nas últimas semanas, a ciência tem se aplicado com afinco para descobrir se o medicamento usado para malária e lúpus é eficaz para tratar pacientes com o novo coronavírus. Para a medicina, nenhum estudo ainda é conclusivo sobre o seu uso no tratamento do vírus. Agora, em termos econômicos, a propaganda em prol do produto surtiu um efeito para lá de positivo.
De fevereiro a março, a venda de cloroquina e hidroxicloroquina nas farmácias saltou de 79.659 para 365.016 caixas – um aumento de 362%. Os dados obtidos por VEJA foram contabilizados pela Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos). Para se ter uma ideia, no acumulado de 12 meses até fevereiro de 2020, a venda do remédio era de 974.669 unidades. Um terço deste número (365.016) foi vendido só em março deste ano. Os dados de abril ainda não foram computados.
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Clique e AssineO entusiasmo em torno do remédio se esvaeceu na mesma velocidade com que o número de mortes por Covid-19 subiu exponencialmente no Brasil e Estados Unidos, hoje apontados como os principais epicentros da doença no mundo. Os dois países liberaram o uso do remédio para o tratamento de pacientes infectados com coronavírus. Apelidado nas redes sociais de “remédio do Bolsonaro”, o medicamento ganhou postagens quase diárias publicadas pelo presidente entre o fim de março e início de abril, o que incluiu até a exibição das marcas comercializadas no Brasil. Depois, os anúncios se arrefeceram, e Bolsonaro ajustou o tom dizendo que não queria “impor” a cloroquina a ninguém e que a “comprovação” era só “lá na frente”.
Nesta quinta-feira, dia 7, foi publicado um estudo no New England Journal of Medicine, que concluiu que o remédio não causou nem dano nem benefício no tratamento contra a Covid-19. Entre os pacientes que receberam a substância, 32,3% acabaram precisando de um ventilador ou faleceram, ante 14,9% dos pacientes que não tomaram o medicamento.
No Brasil, um estudo da Prevent Senior, publicado em 17 de abril, demonstrou que a combinação de hidroxicloroquina com o antibiótico azitromicina em pacientes com sintomas leves reduziu em 2,8 vezes o risco de infecção. As duas pesquisas ainda carecem de ensaios clínicos e se somam às mais de 60 que estão sendo feitas no mundo inteiro para investigar os efeitos do remédio.