O Tribunal Especial Misto, que julga o processo de impeachment contra Wilson Witzel (PSC), governador afastado do Rio de Janeiro, ouviu de duas testemunhas nesta segunda, 28, que a chegada de Gabriell Neves piorou o trabalho na secretaria de Saúde do estado. Neves foi subsecretário da pasta durante a gestão de Edmar Santos e ficou preso até setembro por suspeita de fraude na compra de respiradores durante a crise da covid-19. Já Santos foi solto em agosto e fez acordo de delação premiada.
Ex-subsecretária de Saúde Mariana Tomasi Scardua afirmou que alertou o chefe, Edmar Santos, que a contratação do Iabas para construir os hospitais de campanha seria “perigoso” por causa do histórico da Organização Social de não entregar o que prometia. “Quando eu fiz um novo alerta ao secretário sobre o Iabas, no dia 2 de abril, fui comunicada que seria exonerada no dia seguinte, dia 3 de abril”, afirmou Mariana.
Primeira testemunha a ser ouvida, o ex-assessor especial da subsecretaria de gestão da Atenção Integral à Saúde, Luiz Octavio Martins Mendonça disse que a entrada de Neves na secretaria resultou em atraso no pagamento de salários e de fornecedores. Mendonça afirma que nunca soube nem desconfiou de um esquema de corrupção dentro da pasta, mas questionado sobre o assunto, disse que “a desorganização [de Neves] pode ter favorecido desvios de verba”.
“Até a chegada do Gabriel, a área técnica participava da estruturação de serviços e de insumos, e da seleção de processos das organizações sociais. Antes dele, se fizermos uma retrospectiva, não houve nenhum fato ou crise que pudesse levar a saúde aos atrasos e desabastecimentos. Mas após a entrada dele, o trabalho na secretaria ficou tumultuado”, explicou Mendonça.
Ao todo, três Organizações Sociais teriam respondido por processos de desqualificação, de acordo com o ex-assessor: Unir Saúde, Pró-Saúde e Cruz Vermelha, responsáveis por gerir parte das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) no estado.
Os ex-secretários Alex Bousquet, da Saúde, e Roberto Robadey, da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros, ainda serão ouvidos nesta sessão pelo Tribunal Especial Misto. A oitiva do governador afastado, que aconteceria nesta segunda, 28, foi adiada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a decisão do ministro Alexandre de Moraes, somente depois de ter acesso a todos os documentos do processo, incluindo a delação premiada de Edmar Santos, é que Witzel prestará depoimento.
Em agosto, o governador foi afastado do cargo por meio de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo as investigações, o esquema no governo Witzel lucraria 400 de reais só na secretaria de Saúde. De acordo com levantamento da Procuradoria-Geral da República, o montante seria desviado apenas de contratos fraudulentos com Organizações Sociais.