A divulgação de documentos pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos que detalham o pagamento de propinas pela Odebrecht em onze países, além do Brasil, provocou uma espécie de “efeito dominó” de sanções contra a empreiteira. Segundo as autoridades americanas, a construtora brasileira pagou 788 milhões de dólares (2,5 bilhões de reais) em propinas para representantes de governos em troca de contratos que lhe renderam lucro estimado em 2,6 bilhões de dólares (6 bilhões de reais).
Após a publicação dos documentos pelo EUA, oito países anunciaram que iriam investigar o grupo: México, Peru, Equador, Argentina, Colômbia, Guatemala, República Dominicana e Panamá. Na sequência, vieram sanções concretas. O Equador é o terceiro país a adotar medidas oficiais contra a empresa. Na terça-feira da semana passada, o Panamá anunciou que a empresa não poderia participar de novas licitações. No país, a Odebrecht teria pago 59 milhões de dólares (188 milhões de reais) em propina. Na última quarta, foi a vez de o Peru comunicar que a empresa brasileira ficava impedida de entrar em novas licitações.
Segundo pessoas próximas à empresa, as obras no exterior são consideradas um trunfo de curto prazo, uma vez que os contratos estão assinados e a maioria dos financiamentos, liberada. Garantem geração de caixa, enquanto o grupo ganha tempo para se organizar no Brasil, onde a situação é mais frágil.
As reações internacionais, porém, reforçam uma divisão interna sobre o futuro da Odebrecht. Alguns executivos temem pelo risco de insolvência se os negócios encolherem no exterior. A dívida do grupo beira 100 bilhões de reais. A maioria, porém, descarta o risco de um “efeito dominó” com perdas fatais, porque cada país vive uma realidade e há espaço para negociação com as autoridades locais. Na avaliação desses, o grupo sobrevive, ainda que menor. A empreiteira pode vender ativos e conta com o apoio dos bancos, que esperam receber de volta os financiamentos que concederam.
Procurada, a Odebrecht disse em nota que reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça. “A empresa está implantando as melhores práticas de compliance, baseadas na ética, transparência e integridade.”