As cenas foram terríveis, carregadas da profunda dor que envolve as tragédias. As fortes chuvas que ocorreram no Rio Grande do Sul desde segunda-feira 4 provocaram ao menos 32 mortes, especialmente no centro do estado. O Rio Taquari transbordou e suas águas arrastaram vidas em torno de quarenta municípios. A localidade mais atingida foi o município de Muçum, com mais de 3 000 desalojados. Não havia muito o que fazer, dada a violência da natureza, alimentada por um ciclone extratropical que brotou no Atlântico, atalho para rajadas de vento — contudo, é sempre bom ressalvar, o histórico descaso oficial, associado à pobreza, multiplica os riscos. “Os rios subiram de uma forma surpreendente, nunca vimos algo assim”, disse o governador Eduardo Leite (PSDB), que teve o cuidado de imediatamente visitar as áreas destruídas, próximo à cidade de Lajeado. Ele tem razão — apenas em 1959 houve estrago de monta semelhante. Foi o próprio Leite quem narrou um episódio que ficará marcado como símbolo deste fim de inverno no Sul. “Um dos nossos socorristas, policial da nossa Brigada Militar, resgatava uma senhora sobre o Rio Taquari (em Lajeado) e, perto de chegar à aeronave, o cabo se rompeu. Os dois caíram no rio. Essa senhora perdeu a vida. O policial conseguiu ser socorrido e encaminhado para o hospital”, disse. “Lamentamos profundamente.” Para além do luto das perdas humanas, fica a lição de sempre, comumente abandonada: a prevenção é o melhor — e talvez o único — caminho para evitar dramas como o de agora.
Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2023, edição nº 2858