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“Em nome de Jesus”, bandidos destroem terreiro no Rio

Fanáticos do tráfico obrigaram mãe de santo Carmen de Oxum a destruir seu próprio templo. Apavorada, ela revela a VEJA que saiu do país

Por Luisa Bustamante 8 out 2017, 09h08
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  • Oxum, nas religiões de origem africana, é a entidade que representa fertilidade e amor. Mas na tarde de setembro em que Carmen Flores, a mãe Carmen de Oxum, foi recebida por bandidos armados e obrigada a destruir seu próprio terreiro em Nova Iguaçu, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o tom era de puro ódio nas ofensas à “diaba chefe”. Segundo a polícia, Carmen, de 66 anos, foi vítima da cada vez mais intensa cruzada que traficantes convertidos a religiões evangélicas pentecostais vêm travando contra praticantes de candomblé e umbanda no estado. Aterrorizada, a mãe de santo antecipou uma viagem planejada para o ano que vem e embarcou para a Suíça, onde tem amigos. “Fui expulsa pelo tráfico”, disse a VEJA, por telefone.

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    Ex-vendedora de roupas, mãe Carmen de Oxum, que é viúva, tem dois filhos e vive de aluguéis e doações de fieis, converteu-se ao candomblé aos 33 anos. Procurava um terreiro para curar dores que sentia na barriga. Bem estabelecida no meio, costuma viajar todo ano durante três meses, atendendo a fieis no exterior. “Vivo e, se precisar, morro pelo candomblé”, declara. Foi o primeiro ataque que sofreu, mas atentados a terreiros por parte de traficantes evangélicos não são novidade no Rio. Eles se intensificaram com o aumento da violência, com a ausência de policiamento no estado e com e a propagação de discursos de intolerância e ódio na internet.

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    Carmen voltava do mercado quando foi rendida por sete bandidos munidos de pistolas e barras de ferro. Eles filmaram a destruição e postaram o vídeo nas redes sociais. Em uma das imagens, um deles ordena: “Taca fogo em tudo, quebra tudo, que o sangue de Jesus tem poder”. Feito o estrago, disseram estar cumprindo ordens “do homem que não queria macumba” e foram embora. “Alguns vizinhos ainda aplaudiram”, descreve Carmen, desolada. A mãe de santo comandava aquele terreiro havia quatro anos. Depois da destruição, foi à delegacia, mas preferiu não formalizar o reconhecimento dos bandidos, por medo de represálias.

    Da Suíça, com a ajuda de familiares, busca agora um espaço no Rio para alugar e guardar os objetos que conseguiu salvar. “Tirei no mesmo dia. Não posso voltar lá, porque a área é dominada pelos traficantes”, conta. A investigação policial continua e os bandidos foram identificados. “Mas o fato de ela não ter formalizado a queixa pode atrapalhar a ação penal, por falta de provas”, diz o delegado Adriano França. Entre 2015 e 2016, o Disque 100, serviço do governo federal, registrou um salto de 36% em denúncias relacionadas à intolerância religiosa no Brasil e de 119% só no Rio. Segundo o secretário de direitos humanos do governo fluminense, Átila Nunes, em pouco mais de dois meses, 35 das 39 agressões denunciadas no estado foram dirigidas a religiões africanas; o terreiro de mãe Carmen foi o oitavo destruído da mesma forma este ano. “O discurso das lideranças pentecostais e a impunidade dos atacantes passam a mensagem de que esses atos não são crime”, alerta Nunes. E assim o Rio, em 2017, ganha ares de Idade Média.

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