Em Curitiba, Ratinho pede votos para o filho e diz que campanha falhou
Candidato à prefeitura da capital paranaense exibe o apresentador de televisão em cada evento de campanha. Mas isso pode não ser suficiente para a vitória
“Foi um erro de estratégia do nosso pessoal de marketing. Todo mundo sabe que eu sou amigo do Lula”
Em uma ensolarada tarde de sábado, véspera de segundo turno, a carreata de Ratinho Júnior (PSC) segue pela Cidade Industrial, bairro de baixa renda de Curitiba. De cima da camionete, o apresentador de TV Ratinho dirige-se ao locutor que pede votos para o candidato e cochicha: “A luta do povo contra a elite”. Ato contínuo, o homem brada ao microfone: “É a luta do povo contra a elite!”.
Nos bairros humildes da zona norte de Curitiba, o discurso parece agradar. Nessa região, a carreata de Ratinho Júnior, o candidato do PSC à prefeitura, é recebida de forma calorosa por onde passa. Mas boa parte dos acenos vai para o pai do candidato.
“Eu sou o cabo eleitoral mais popular dele. Mas não o principal”, diz o apresentador de TV. Ao lado do filho em cada evento de campanha, Ratinho diz que a ideia da candidatura foi tomada de forma solitária por seu herdeiro. Pode até ser verdade, mas a campanha recorre todo o tempo à popularidade do pai do candidato. Um dos panfletos distribuídos na fase decisiva da campanha exibe, na primeira página, uma foto de Ratinho pai com os dizeres: “Por que votar no meu filho”. Nas folhas seguintes, um resumo das propostas de Ratinho Júnior.
Datafolha: Fruet marca 60%, e Ratinho Jr., 40%
O mascote da campanha é Xaropinho, o roedor que é coadjuvante do programa de Ratinho (o pai) no SBT. Em alguns eventos de campanha, integrantes da trupe do arpesentador marcaram presença.
No sábado decisivo, entretanto, a carreta de Ratinho chamava a atenção também para a falta de apoiadores políticos ou artísticos. Na carroceria da caminhonete onde pai e filho acenavam para os eleitores, o deputado federal Fernando Francischini (PEN) era a única figura digna de nota. Nem o vice, Ricardo Mesquita, apareceu.
Ratinho Júnior terminou o primeiro turno na liderança, com 34% dos votos. Mas, na segunda etapa, ele viu o adversário Gustavo Fruet (PDT) abriu uma vantagem consistente ns pesquisas.
Ratinho pai acredita que Gustavo foi favorecido por uma falha de avaliação da equipe de Ratinho Júnior, que passou a exibir ataques ao PT no horário eleitoral. “Foi um erro de estratégia do nosso pessoal de marketing. Todo mundo sabe que eu sou amigo do Lula”, diz ele.
Paradigma – Apesar da onipresença do apresentador de TV na campanha de Ratinho Júnior, o candidato do PSC à prefeitura não é um poste. Depois de uma passagem pela Assembleia Legislativa do Paraná, ele está no segundo mandato de deputado federal. É formado em Comunicação, fez pós-graduação em Direito na Espanha, exibe certa articulação ao falar e não passa vergonha nos debates. Mas talvez seja preciso mais do que isso para superar o capital político do adversário Gustavo Fruet e do PT paranaense.
Aos 31 anos, o candidato conforma-se com a eventual derrota: diz que, por ser de um partido pequeno e não ter contado com o apoio de grandes lideranças no Paraná, já pode se dizer vitorioso: “É uma quebra de paradigma”.
A propósito: a menção à luta contra as elites não é inadequada para um candidato que tem um patrimônio declarado de 7,6 milhões de reais? Ratinho Júnior responde com uma meia-verdade: “Eu sou o primeiro candidato que não é de família tradicional”.