A catástrofe que atinge o Rio Grande do Sul vai inevitavelmente colocar o enfrentamento de tragédias naturais na pauta das eleições municipais. Até o momento, no entanto, o debate é uma seca de novas ideias. VEJA enviou questionário para saber o que pensam sobre o tema os principais competidores em cinco capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador). As respostas mostram uma grande quantidade de planos genéricos.
Um dos principais problemas é a ausência de ações urgentes. Muitas propostas dos pré-candidatos apontam, de maneira correta, mas a longo prazo, para iniciativas como investir em coleta de lixo (para evitar o entupimento de bueiros), expandir frotas de ônibus elétricos ou com uso de etanol, apostar em materiais reutilizáveis em obras públicas e fazer obras de macrodrenagem e saneamento básico.
Outra abordagem muito comum envolve ações de reflorestamento urbano, que permitem reduzir a velocidade das águas e facilitam a absorção das chuvas pelo solo. Em Porto Alegre, inundada pelo Lago Guaíba, a recuperação das matas no entorno de arroios, rios e córregos surge tanto na campanha do prefeito Sebastião Melo (MDB) quanto na da deputada Maria do Rosário (PT). O plano de construir parques urbanos e corredores verdes, tirando do papel o conceito de “cidades-esponjas”, é citado também nos programas do deputado Rogério Correia (PT), que disputa a prefeitura de Belo Horizonte, e do prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), que tenta a reeleição.
A maioria dos políticos reconhece que é preciso priorizar a atenção aos moradores de áreas de risco. Nesses locais, a prevenção de deslizamentos e inundações envolve amplas obras de infraestrutura urbana, como modernização dos esgotos, abertura de canais de drenagem e construção de paredões de contenção do solo. Como alternativa de curto prazo, candidatos sugerem expandir programas de moradia popular para retirar a população das regiões mais vulneráveis — a proposta está, por exemplo, no programa de Ricardo Nunes (MDB), que disputa a reeleição em São Paulo, e de Kleber Rosa (PSOL), pré-candidato em Salvador.
Embora haja preocupação com a adaptação das cidades para o futuro, há um notável vácuo de propostas para uma necessidade mais urgente: como atuar rapidamente no caso de tragédia. Isso é relevante porque o caos visto no Sul pode se repetir: nada menos que duas em três cidades (3 679) têm capacidade baixa ou muito baixa para reagir a desastres, segundo a plataforma Adapta Brasil, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Quase 1 000 têm um risco alto ou muito alto para alagamentos.
A prevenção de mortes exige maiores equipes de emergência, equipamentos modernos, sistemas sofisticados de monitoramento e alerta e treinamento de agentes para evacuação numa crise. “É primordial que esses órgãos de defesa sejam fortalecidos e capazes de responder de forma precoce, eficaz e integrada”, diz Adriana Leiras, coordenadora-geral do Laboratório HANDs, da PUC-Rio, especializado em gestão de desastres, e da equipe técnica que elabora o Plano Nacional de Defesa Civil (PNDC).
Publicado em VEJA de 31 de maio de 2024, edição nº 2895