Por que abraçou a causa do canabidiol? É preciso conscientizar as pessoas sobre os benefícios do medicamento. Eu mesma sou usuária, tenho epilepsia. O canabidiol ajuda no tratamento de autistas, de pessoas com Parkinson, Alzheimer e outras doenças. O problema é que é uma droga muito cara. Um vidro pequeno custa mais de 200 reais, o que a torna inacessível para muitas famílias. Eu não estou nisso por mim, que graças a Deus tenho como comprar, mas pelas pessoas que não podem.
Como a neta do presidente da República pode ajudar? Sou filiada à Associação Brasileira de Acesso a Cannabis Medicinal do Rio de Janeiro. Defendemos que o canabidiol seja incluído na lista de medicamentos disponibilizados pelo SUS. Em Búzios (RJ), há um belíssimo trabalho nessa direção que beneficia inúmeras famílias. Minha intenção é levar essa questão à ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Você já falou com seu avô sobre o projeto? Sim. Meu avô foi a primeira pessoa a me ajudar. O primeiro lote que comprei, há quatro anos, trouxe de fora do país e paguei em dólar. Foi ele quem me ajudou porque eu não tinha dinheiro. As minhas crises começaram aos 11 anos, mas eram esporádicas. Já cheguei a ter sete crises por dia. Hoje, o canabidiol me dá qualidade de vida. Por essa razão, resolvi quebrar o tabu, falar sobre isso e ajudar as pessoas. Meu avô sabe que eu defendo essa causa e apoia.
E esse “lobby” já surtiu algum efeito? Eu já comecei, entre aspas, a “cutucá-lo” para expandirmos esse assunto para todo o país. Mas não temos nem seis meses de governo. A gente encontrou o país com muitos problemas. Tem municípios que nem possuem insulina para os diabéticos. O canabidiol é caro e ainda temos a questão legal que o envolve. Vamos conseguir nacionalizar o tratamento através do SUS, mas tenho consciência de que é uma luta a longo prazo.
Como é a sua relação com o presidente Lula? É ótima. Igual a todas as relações de avô com neta. Sei que hoje ele é muito mais o presidente da República, mas fazemos tudo que netos e avós fazem. Falamos tranquilamente sobre problemas da vida cotidiana. Ele sabe da minha luta com a epilepsia. Minha filha tem 6 anos e é diabética tipo 1. Possui ansiedade pela restrição alimentar e também já começou a fazer uso do canabidiol. Desde então, já demonstrou melhoras.
Como petista, tem planos pessoais para a política? O futuro a Deus pertence. Não descarto nada, mas não é esse o meu foco. Meu objetivo hoje é contribuir nessa questão de saúde pública. Quero ajudar a colocar a Cannabis medicinal no SUS e também o medidor de glicose com sensor para o tratamento de crianças diabéticas. Minha luta é essa. Não penso em candidatura para nada.
Publicado em VEJA de 7 de junho de 2023, edição nº 2844