Sob as alegações de que atingiu o tempo de contribuição previdenciária e que sua atividade envolve de risco, o delegado-geral de Polícia Civil do Rio Grande do Norte, José Francisco Correia Júnior, anunciou nesta sexta-feira que deixará o cargo. O anúncio da aposentadoria ocorre num dos períodos mais críticos na segurança pública potiguar. Também nessa sexta, o governo federal anunciou o envio de dois mil homens da Força Nacional para reforçar a segurança no estado.
Desde o início da semana passada, policiais civis e militares, além de bombeiros, delegados e escrivães de Polícia Civil reduziram os serviços a 20% do efetivo. Eles pedem o pagamento dos salários atrasados dos meses de novembro, dezembro e o décimo terceiro. Além disso, pedem melhorias na estrutura de trabalho e regularização das viaturas policiais.
Os policiais civis e militares mantêm, mesmo descumprindo decisão judicial, a paralisação dos serviços. As categorias alegam que não estão em greve, mas apenas trabalhando com as condições oferecidas pelo Poder Executivo.
“Sei do momento extremamente delicado que passa toda a segurança pública, todavia, essa decisão já é antiga, tomada há alguns meses, sendo já do conhecimento de alguns colegas”, escreveu Correia Júnior em carta enviada aos colegas de corporação e à secretária Sheila Freitas (Segurança Pública e Defesa Social). Ele também pediu desculpas “por aquilo que não pude fazer a mais”.
Ajuda federal
O envio de tropas para atuar em operação de Garantia de Lei e da Ordem foi anunciada nessa sexta pelo ministro da Defesa Raul Jungmann e atende a um pedido do governo estadual. Nesta primeira etapa serão 500 agentes de segurança, que atuarão na região metropolitana de Natal e de Mossoró. A ação tem duração inicial de 15 dias, mas pode ser renovada. Atualmente, cerca de 150 homens e mulheres da Força Nacional já reforçam o policiamento ostensivo em Natal.
“Ficaremos lá o quanto for necessário, até que a ordem se restabeleça”, disse Jungmann. O ministro também fez um apelo para que profissionais voltem ao trabalho. “A situação é difícil, entendemos a falta de salário, a falta de equipamentos, mas acima disso está o juramento que o policial militar fez de defender a vida. O valor mais sagrado é da vida”, disse o ministro.
Em solidariedade aos homens “que ganham mal”, deslocados para o Rio Grande do Norte, Jungmann disse que vai permanecer no estado até o Réveillon. O ministro anunciou ainda a prorrogação da operação de Garantia da Lei e da Ordem no Rio de Janeiro até dezembro de 2018. Na próxima semana, o governador Luiz Fernando Pezão irá a Brasília para, numa reunião com o Ministério da Defesa, GSI e Ministério da Justiça, definir um protocolo para as ações conjuntas.
Números da violência
Desde o início da semana passada até a manhã desta sexta-feira, a Central de Flagrantes da Polícia Civil do Rio Grande do Norte registrou 538 ocorrências. A maioria delas (479) se relaciona a roubos contra pessoas.
Arrombamentos a estabelecimentos comerciais somam 50; a bancos e terminais eletrônicos, sete; e o roubo de veículos atingiu uma marca recorde: 242 ocorrências. Durante a madrugada de hoje, mais um supermercado foi invadido por cerca de 20 criminosos, que quebraram vidraças e saquearam produtos.