Traficantes e milicianos do Rio de Janeiro estão ordenando toque de recolher em favelas da cidade por causa da pandemia do coronavírus. Em várias comunidades, cartazes espalhados nas ruas e vielas e carros de som circulam com a ordem. Na Rocinha, Zona Sul, moradores receberam o recado do tráfico via WhatsApp para não saírem de casa depois das 20h, como revelou a VEJA Rio com exclusividade na noite do último sábado.
“CV (Comando Vermelho) comunica: Pessoal, fica em casa. A coisa está ficando séria e tem gente que tá levando na brincadeira. Os corruptos de Brasília falaram para não sair mais (sic) tem um povinho se fazendo de surdo. Agora vocês vão ficar em casa por bem ou por mal. Toc (sic) de recolher todos os dias a partir das 20:00. Quem for pego na rua vai aprender como respeitar o próximo. Queremos o melhor para a população. Se o governo não tem capacidade de dar um jeito, o crime organizado resolve”, diz o aviso na Rocinha, com erros de português, distribuído para os telefones dos moradores.
O mesmo horário foi estabelecido por milicianos que dominam a favela de Rio das Pedras e adjacências, na Zona Oeste. “Atenção todos os moradores de Rio das Pedras, Muzema e Tijuquinha! Toque de recolher a partir de hoje 20:00 hrs. Quem for visto na rua após este horário vai aprender a respeitar o próximo!”, dizia um dos alertas divulgado pelos paramilitares.
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, 63 casos da doença em comunidades estavam sendo investigados até a última segunda-feira. Um deles foi confirmado na Cidade de Deus, onde um alto-falante está sendo utilizado pelo bandidos para chamar a atenção dos moradores. Na favela, são 19 pessoas com suspeitas de terem contraído o Covid-19.
“Estamos tentando levar uma vida normal, mas está muito difícil. Sem trabalho, não há dinheiro. E, agora, não podemos mais sair de casa à noite”, revelou um morador da Cidade de Deus a VEJA. O recado dos traficantes da comunidade é assim: Quem estiver na rua de sacanagem ou batendo perna vai receber um corretivo e vai ficar de exemplo. É melhor ficar em casa de molho. O recado já foi dado”.