Arrai, um canal de televisão com sede na Síria que afirma se opor a “todos os ditadores”, tornou-se famoso por ser o único a manter contato direto com o líder deposto líbio Muamar Kadhafi.
“É possível dizer tudo o que é preciso ser dito a favor ou contra os dirigentes ou os regimes árabes. A única coisa proibida são os insultos e as obscenidades”, explica a apresentadora Yara Saleh, de 26 anos.
“Somos o único canal que está em contato direto com Kadhafi e sua família. Os canais com os quais concorremos investiram em tecnologia para fazer shows; e nós, em tecnologia para tornar mais seguras nossas comunicações. Graças ao nosso sistema, (Kadhafi) já nos ligou seis vezes”, conta a diretora geral, Hawazen al-Yuburi, de 27 anos, filha do dono do canal.
O foragido ex-líder líbio escolheu este canal porque “sabe que somos corretos e nunca deformamos o que disse”, acrescenta esta estudante de Literatura Inglesa na Universidade de Damasco.
“Posso assegurar que ele se mantém com seus combatentes”, considerou.
Depois de fugir do Iraque, onde afirma que as forças americanas queriam acabar com ele, Mishan al-Yuburi fundou a Arrai (“Opinião”) em 2007. O canal transmite suas notícias de uma cobertura de 250 metros quadrados cheia de antenas parabólicas situada em um subúrbio de Damasco.
Há um mês, conta Yuburi, um empresário sírio enviado pelo CNT líbio ofereceu dinheiro a ele para que não falasse mais da Líbia. “O que vamos dizer aos telespectadores? Deixamos de ser resistentes? Não, obrigado”, afirma.
Anteriormente, Kadhafi também havia tentado calar a Arrai, conta Yuburi.
“Como defendíamos as revoluções egípcia e tunisiana, Kadhafi, furioso, telefonou para (o presidente sírio) Bashar al-Assad para pedir que fechasse este canal porque, caso contrário, iria bombardeá-lo”, explica.
Mahmud Jibril, o número dois do Conselho Nacional de Transição líbio (CNT), “acaba de declarar que, se as autoridades sírias não suspenderem nossa difusão, vão criar uma televisão da oposição síria”, ressalta Yuburi.
“Somos contra todos os ditadores e quando começaram as manifestações em Benghazi (leste da Líbia), nós as apoiamos”, acrescenta este empresário que foi um dos assessores do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein, antes de se opor a ele.
“Apoiamos aqueles que se opõem à ocupação e, hoje, estamos com Kadhafi, que defende seu país contra a Otan”, indica.
Embora afirme se opor a “todas as ditaduras” do mundo árabe, Yuburi prefere não falar da Síria, onde, segundo a ONU, a repressão causou a morte de mais de 2.700 pessoas desde o início da mobilização contra o rgime de Assad, em março passado.
“Assim como a rede via satélite do Qatar Al-Jazeera, que não fala do que acontece nesse país, nós não interferimos nos assuntos sírios, apesar de erros serem certamente cometidos e de ser legítimo exigir mais democracia”, afirma.