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Conspiração internacional: a versão de Pizzolato para reescrever o passado

Peça-chave do mensalão, ele diz que ex-vice-presidente dos Estados Unidos estaria na raiz do escândalo

Por Leonardo Caldas Atualizado em 4 jun 2024, 10h12 - Publicado em 25 ago 2023, 06h00
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  • A história do bancário Henrique Pizzolato daria um roteiro para um filme de ação, suspense e ficção. Ele era um discreto militante do PT antes do primeiro governo Lula, em 2003, quando foi nomeado diretor de marketing do Banco do Brasil, um cargo aparentemente sem importância. Descobriu-­se, porém, que o petista era parte de uma engrenagem responsável por desviar milhões de reais destinados a subornar parlamentares — escândalo de corrupção que ficou conhecido como mensalão e levou à prisão líderes partidários, políticos estrelados e empresários. Peça-chave no esquema, o bancário foi condenado a doze anos de prisão, fugiu do país, foi capturado, cumpriu pena e agora quer provar que tudo o que aconteceu foi parte de uma conspiração internacional — um “plano de dominação econômica” dos Estados Unidos que tinha o objetivo de depor Lula, o então presidente da República.

    “O Lula era a última barreira para que eles tomassem conta da energia fóssil do país, da energia hídrica, das nossas riquezas”, disse o ex-bancário em entrevista a VEJA. No centro dessa maquinação estaria ninguém menos que Dick Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ex-CEO de uma multinacional petrolífera, cujos interesses estavam sendo contrariados. “Eu era o personagem ideal para sustentar essa mentira toda. Eles precisavam dizer que havia corrupção no governo. E onde tinha dinheiro público em grande quantidade? No Banco do Brasil. Procuraram, então, alguém do PT próximo do alto escalão do banco para encaixar na trama. E quem era essa pessoa? Eu”, relatou.

    A conspirata é o ingrediente ficcional de uma história real que parece ficção. Em 2013, antes de ser preso, Pizzolato fugiu para a Itália, onde ficou escondido durante dois anos. Antes de escapar, o bancário assumiu a identidade de um irmão que havia morrido na década de 70. Com documentos falsos, tirou um passaporte, foi de carro até a Argentina, de lá embarcou num avião para a Espanha, onde cruzou a fronteira em direção à Itália. Para despistar as autoridades, Pizzolato simulou a própria morte. Consta que teria redigido até um testamento. A farsa, porém, foi descoberta. Preso na cidade de Maranello, foi extraditado, cumpriu 52 meses de prisão e agora reaparece com essa curiosa versão do passado.

    No ano passado, a pena de Pizzolato foi extinta. O petista pode reaver seu verdadeiro passaporte, que havia sido apreendido, e, se quiser, pode deixar o país de maneira legal. Mas isso não está em seus planos. Aposentado, ele reclama que gasta 20% do que recebe como pensão pagando a parcela da multa de 2 milhões de reais que a Justiça lhe impôs, e complementa os ganhos vendendo limoncello (licor italiano). Embora continue militando no PT, ao contrário de outros mensaleiros ele prefere ficar distante do governo. “Sabe por quê? Porque essa história de mensalão não foi expurgada do imaginário popular”, explica. O ex-diretor do BB ressalta que seu propósito no momento é provar que foi vítima de lawfare — situação em que a Justiça é usada para fins políticos. Uma entidade ligada à Universidade de Brasília já incluiu o processo dele como exemplo de abuso judicial. Nos dias atuais, cada um conta a história que quiser.

    Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2023, edição nº 2856

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