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Carta ao Leitor: Uma verdade inconveniente

Diante de tragédias como as do Rio Grande do Sul, as autoridades não parecem preparadas para lidar com o pior - e alimentam o desdém

Por Da Redação Atualizado em 3 jun 2024, 16h59 - Publicado em 10 Maio 2024, 06h00
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  • VERGONHOSA REPETIÇÃO - Calamidade no Rio Grande do Sul no fim do ano passado e a capa de VEJA sobre as enchentes no Litoral Norte de São Paulo em fevereiro de 2023: não se pode considerar as tragédias inevitáveis
    VERGONHOSA REPETIÇÃO - Calamidade no Rio Grande do Sul no fim do ano passado e a capa de VEJA sobre as enchentes no Litoral Norte de São Paulo em fevereiro de 2023: não se pode considerar as tragédias inevitáveis (Silvio Avila/AFP)

    As mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, resultado da irresponsabilidade abusiva do ser humano, são uma verdade inconveniente — e incontestável. Os extremos de temperatura se multiplicam. O ano de 2023 foi o mais quente da história, desde que os cientistas começaram a fazer a medição — a partir do momento em que os combustíveis fósseis passaram a ser a norma, os termômetros estiveram 1,48 grau mais elevados do que as médias do período pré-­industrial. Os desastres naturais pululam, com estiagem em demasia e frio exagerado. Brotam cenários de um filme catástrofe, ainda que não indiquem o fim dos tempos.

    Não se pode, contudo, atribuir tragédias como a do Rio Grande do Sul, nos últimos dez dias, apenas às intempéries da natureza. Até quarta-feira 8, o número de mortos tinha chegado a 100, com 130 desaparecidos e pelo menos 230 000 desalojados pelas enchentes. As cenas eram dramáticas, tingidas de barro e dor, raiva e incredulidade. Direto ao ponto: boa parcela da culpa é das autoridades, seja porque não parecem preparadas para lidar com o pior, seja porque alimentam o desdém. Sabe-se, ano após ano, que os desastres podem se repetir — o próprio interior gaúcho sofrera com aguaceiro desproporcional entre setembro e dezembro do ano passado, além de horrores semelhantes na Bahia, em 2021, e no Litoral Norte de São Paulo, em fevereiro de 2023. Contudo, apesar do permanente alerta, do medo atrás da porta, fazem-se ouvidos moucos, como se houvesse algo mais relevante do que vidas humanas.

    No Rio Grande do Sul, a verba para a pasta de gestão de projetos e respostas a desastres naturais foi estabelecida, em 2024, em escassos 117 milhões de reais, o equivalente a 0,2% do Orçamento total aprovado. Do ponto de vista federal, o descaso acumulado é semelhante e constrangedor. Em 2014, o valor previsto para a gestão de riscos era de 4,3 bilhões de reais, o equivalente a 7,8 bilhões de reais, aplicada a correção do IPCA. Neste ano, a previsão é de 2,6 bilhões de reais. É muito pouco.

    Depois das mortes, depois do descaso, começa agora a haver alguma movimentação — com o governador Eduardo Leite, do PSDB, e a administração petista de Lula de mãos dadas. E, enfim, os três poderes da República se aliaram. É o mínimo que poderia acontecer, ainda que tardiamente. O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, anunciou a liberação de 614 milhões de reais em emendas direcionadas ao estado sulista. Na atual legislatura de Brasília, foram alocados menos de 2 milhões de reais em emendas da Câmara. É quase nada.

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    Há tempo de melhora para o futuro, de modo que a história não se repita. Os caminhos — na parceria entre o poder público e o privado — são três: a mitigação dos perigos, com obras de contenção e prevenção, a adaptação de populações mais frágeis ao inevitável (mudança de residência) e a velocidade do socorro. Não foi o que se viu, lamentavelmente, nos últimos dias.

    Publicado em VEJA de 10 de maio de 2024, edição nº 2892

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