Carta ao Leitor: O grito pela democracia
Pelo resultado das eleições e pela provável vitória sobre a Covid-19, 2022 será um divisor de águas para o Brasil
O ano de 2022 será decisivo para a história do Brasil. Nas eleições de 2 de outubro, vamos escolher não apenas o presidente dos próximos quatro anos, mas o modelo de país que queremos. Hoje, os pontos negativos dos candidatos que lideram essa corrida são preocupantes. De um lado, o radicalismo e a instabilidade, promovidos por Jair Bolsonaro. Do outro, o terraplanismo econômico e a corrupção institucionalizada, chagas do governo petista. Por fora, correm o governador de São Paulo, João Doria, o ex-juiz Sergio Moro e Ciro Gomes. É difícil prever o que vai acontecer daqui a dez meses, mas uma coisa é certa: dada a temperatura da política brasileira, o pleito será mercurial, acalorado, afeito a embates vigorosos. VEJA espera que das discussões, e sobretudo do resultado das urnas, brote um país mais sensato, capaz de simultaneamente resolver as inaceitáveis distâncias sociais, mas também de preservar o direito à livre-iniciativa, sem exagerada intromissão do Estado. Tudo o que os brasileiros menos precisam é mergulhar, uma vez mais, na polarização daninha que distorce a realidade, alimenta as mentiras e cria um campo de imensa insegurança para os investimentos — a mola propulsora deste país. É preciso um pouco de calma, muito de equilíbrio e nada de radicalismo.
Uma página será virada, e desse movimento é que construiremos uma nova nação. Coincidiu de esse momento acontecer em plena pandemia de Covid-19, a tragédia sanitária que parou o mundo e mudou o cotidiano das sociedades nos últimos dois anos. O SARS-CoV-2, ao lado da economia, será um dos personagens dessa campanha. Graças ao trabalho do SUS e de alguns governadores e prefeitos, com destaque para o pioneirismo de João Doria em São Paulo, o país finalmente caminha para controlar o problema. Apesar da inexplicável resistência de Bolsonaro, cerca de 67% da população já completou o ciclo vacinal com duas doses ou dose única — patamar invejável para qualquer grande país do mundo. É possível que estejamos caminhando para o início do fim do surto, mesmo com a acelerada eclosão de casos da variante ômicron, que, de acordo com estudos e exemplos no exterior, não se reflete no aumento de hospitalizações e mortes.
Pelo resultado das eleições e pela provável vitória sobre a Covid-19, 2022 será um divisor de águas. O mesmo aconteceu há exatos 200 anos, quando dom Pedro I deu o grito no Ipiranga e anunciou a independência da metrópole portuguesa. A partir daquele 7 de setembro, o Brasil avançou, décadas depois decretou o fim da escravidão, saiu da monarquia para a república e, com muito esforço e dor, avanços e recuos, alcançou a democracia. Democracia que ainda hoje precisa ser cuidadosamente regada para não darmos um passo atrás. Goste-se ou não do que as urnas vão decretar, é preciso conviver, torcer a favor e respeitar as instituições. Chega de berros contra os supostos inimigos. Chega de teorias conspiratórias, baseadas em fake news e que tanto atrapalham a estabilidade econômica do país. O grito agora é pela democracia. Feliz 2022!
Publicado em VEJA de 12 de janeiro de 2022, edição nº 2771