Carta ao Leitor: O combate necessário
Contra a crise da segurança, é vital implementar boas políticas públicas coordenadas entre municípios, estados e governo federal
O país tem uma lista cada vez maior de graves e urgentes desafios na área de segurança. Temos uma média de 18,53 mortes para cada 100 000 habitantes, taxa compatível à de nações como Guatemala e Nigéria. Outro indicador capaz de tirar o sono dos brasileiros é a quantidade de furtos e roubos. Somente de veículos, registram-se 41 ocorrências por hora, ou seja, quase uma por minuto. Ataques de bandidos para surrupiar celulares ganharam proporções epidêmicas e ocorrem com frequência mesmo à luz do dia. O clima de terror escalou ainda mais com o aumento das atividades das facções criminosas, que passaram a dominar várias áreas das metrópoles e começaram a usar o dinheiro do tráfico para financiar outros ramos de negócios. Parte desses lucros é investida para estender tentáculos de influência em direção à política e à Justiça.
Considerando-se esse contexto crítico, não por acaso a questão da segurança se tornou o item que mais preocupa hoje os brasileiros. Uma pesquisa Datafolha feita no fim de março constatou que dois em cada três entrevistados (65%) se sentem inseguros ao andar nas ruas: 39%, muito inseguros e 26%, um pouco inseguros. Várias sondagens eleitorais divulgadas nas últimas semanas em diversas cidades mostram que o assunto estará no centro das inquietações dos eleitores nas disputas municipais deste ano e, muito provavelmente, nos debates relativos aos pleitos de 2026, incluindo a corrida ao Palácio do Planalto.
Infelizmente, é comum que esse enorme apelo do tema ajude na proliferação de discursos demagógicos. Medidas populistas e açodadas fazem algum barulho, ajudando a angariar aplausos nos palanques e curtidas nas redes sociais, mas se mostram pouco eficazes na prática. É necessário encarar de forma mais séria a questão, equilibrando os esforços de prevenção e repressão, sem fazer com que o combate ao crime atropele direitos individuais e acabe incrementando a barbárie vista atualmente nas ruas com a participação da (má) polícia.
Está longe de ser uma tarefa fácil resolver o imbróglio da segurança, é verdade, mas alguns estados vêm conseguindo resultados elogiáveis. Conforme mostra reportagem desta edição, governos de Goiás, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Santa Catarina, entre outros, não ficaram apenas no discurso e nas promessas. Com uma série de ações planejadas, reduziram de forma expressiva as ocorrências policiais. A solução não passa apenas por investimentos em equipamentos, em mais homens nas ruas e em novas tecnologias, como as câmeras embutidas nos uniformes dos guardas para inibir abusos e preservar os policiais. Tudo isso é necessário, claro, mas nada vai evoluir na escala que o país precisa sem a implementação de boas políticas públicas coordenadas entre municípios, estados e governo federal. Não há mais tempo a perder nessa luta.
Publicado em VEJA de 26 de abril de 2024, edição nº 2890