Vem de longe o fascínio pelas sobrancelhas. Finíssimas como as de Greta Garbo ou grossas iguais às de Cara Delevingne, elas ajudam a contar capítulos decisivos da história da beleza feminina. No Egito, a homenagem ao Deus Hórus era feita com olhos e sobrancelhas fortemente delineados (quem se esqueceria de Cleópatra?). Na Grécia Antiga acreditava-se que a mulher que nascia com as sobrancelhas emendadas era abençoada pelos deuses. Ao longo dos séculos, sua forma e estilo passaram por muitas alterações, algumas radicais.
É o que ocorre neste 2021, depois de um ano e meio de quarentena e muitas experimentações na parte superior da face, a única de fora por causa das máscaras. Elas exibem agora uma coloração desbotada, quase imperceptível. Recentemente, celebridades como a atriz Maisie Williams, a modelo Haley Bieber, a influencer Kim Kardashian e a cantora Lizzo exibiram supercílios despigmentados no Instagram. As hashtags #bleachedeyebrows e #bleachedbrows (sobrancelhas descoloridas, em tradução livre) somam cerca de 50 milhões de menções no TikTok. De acordo com o mais recente relatório da rede de compartilhamento de fotos Pinterest, as pesquisas para “sobrancelhas descoloridas” cresceram 160%.
Os fios descoloridos desviam a atenção da metade superior do rosto. O efeito? Olhos e cílios em destaque e a face sutilmente equilibrada. O visual pode ser conquistado com maquiagem (corretivo e pós translúcido) ou por meio da descoloração dos fios com produtos químicos. Nesse caso, é necessário cuidado. “O ideal é que o procedimento seja feito por um profissional especializado, pois há risco de reações alérgicas”, alerta a especialista em nanopigmentação Natalia Martins, CEO do Grupo Natalia Beauty.
A inquietude feminina ao longo das décadas é pontuada pelas sobrancelhas. “As sobrancelhas dão expressão e dialogam com as questões estéticas de determinado período”, diz João Braga, professor de história da moda na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), de São Paulo. Hoje, com tanta ebulição e rapidez, é de esperar, portanto, que elas ainda mudem muito.
Publicado em VEJA de 21 de julho de 2021, edição nº 2747