Brasil tem um conflito no campo a cada quatro horas, aponta relatório
Povos indígenas são os principais afetados pela violência; a maior parte dos confrontos ocorreu na Amazônia
A violência nas zonas rurais brasileiras voltou a crescer em 2022 e atingiu a média de um conflito a cada quatro horas, totalizando 2018 ocorrências em uma área superior a 80,1 milhões de hectares de terra, segundo um relatório divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O número de confrontos no campo cresceu 10% em relação a 2021, quando havia caído 14% em comparação ao ano anterior, e afetou mais de 900 mil pessoas em todo o território nacional.
A maior parte desses conflitos está ligada a disputas por terra, somando 1572 ocorrências, 17% a mais que em 2021. Entre os demais registros estão assassinatos, contaminação por agrotóxicos, disputas por água e trabalho em condições análogas à escravidão — essa última categoria disparou 32% e teve o pior índice dos últimos dez anos, sendo 2218 pessoas resgatadas em 207 ocorrências. Já os casos de homicídios no campo dispararam 30%, sendo que os indígenas representaram uma em cada três pessoas assassinadas. A CPT alerta que, nos últimos vinte anos, os conflitos têm mudado o foco de disputas contra movimentos sem-terra para os indígenas, principalmente através de grilagem e invasão de comunidades.
O estudo indica ainda uma alarmante crise de violência na Amazônia Legal, área mais atingida pelos conflitos. Dos cinco estados com mais ocorrências, quatro integram a área da Floresta Amazônica, sendo que a região concentrou 72% de todos os assassinatos nas zonas rurais do Brasil e mais da metade de todas as ocorrências de confrontos. O relatório classifica a Amazônia como “palco de exploração e devastação, criando um verdadeiro campo minado, no qual foram atingidas 121.341 famílias de povos originários e comunidades camponesas em 2022”.