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Bolsonaro quer que presidente do BB seja um “executivo político”

Para permanecer no cargo, André Brandão, que comanda o maior banco estatal do país, terá de se aproximar de parlamentares e do Palácio do Planalto

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 fev 2021, 10h51 - Publicado em 24 jan 2021, 10h00

Após aceitar o convite para presidir o Banco do Brasil, em setembro do ano passado, o banqueiro André Brandão gravou uma entrevista em vídeo para os servidores da instituição estatal. Em sua residência, ele falou sobre os seus planos de gestão e contou qual foi a missão que recebeu do ministro da Economia, Paulo Guedes. “O ministro pediu um gestor do banco. Ele falou assim: ‘André, tem várias coisas que a gente precisa fazer, e eu preciso de um executivo’. E é o que sou: sou um executivo”, afirmou Brandão, que atuou mais de vinte anos em bancos privados, sendo conhecido no mercado pelo perfil técnico. É justamente essa característica que Jair Bolsonaro pretende mudar.

Desde o fim do ano passado, o presidente tem recebido reclamações sobre Brandão, que, segundo seus detratores, tem pouco jogo de cintura político em Brasília. Em tom de crítica, alguns parlamentares disseram que o executivo não atendia a pedidos diversos, de indicação para cargos no BB a convites para eventos culturais patrocinados pela instituição. Até então, Brandão não era afeito à dinâmica de Brasília. Costumava declinar convites de jantares com senadores e evitava receber deputados em seu gabinete. Mais reservado, ele se tornou a antítese do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, que tem um bom trânsito no Palácio do Planalto e no Congresso.

A gota d’água do estresse entre Bolsonaro e Brandão ocorreu em 11 de janeiro deste ano, quando o BB anunciou dois programas de demissão voluntária para cerca de 5 000 funcionários e o fechamento de 361 unidades da instituição, sendo 112 agências, 242 postos de atendimentos e sete escritórios. A notícia gerou um alvoroço entre servidores do banco e prefeitos de municípios — que passaram a pressionar parlamentares em Brasília para cobrar uma resposta do Planalto. Após receber diversas reclamações e sem antes tentar entender detalhes da medida, Bolsonaro disse para os seus auxiliares que iria “cortar a cabeça” do chefe do BB e que a ação era mais uma “manobra para sabotar” o seu governo.

A exoneração só não foi assinada porque o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Campos Neto, entraram em ação. O ministro explicou para Bolsonaro que nenhuma cidade ficaria sem unidades de atendimento e que haveria apenas um enxugamento das estruturas. O próprio Brandão, antes de assumir a sua função, gravou um vídeo dizendo que não reduziria a presença do BB nos municípios, mas apenas mudaria o estilo das agências, um plano chancelado pelo Conselho de Administração e que poderá render uma economia de 2,7 bilhões de reais até 2025.

A investida deu certo. Por ora, Brandão continuará no cargo sob uma condição: adotar uma agenda mais política e estreitar os laços com parlamentares. Além disso, decisões mais delicadas do banco terão de se despachadas no Palácio do Planalto. Conforme relata reportagem de VEJA desta edição, o episódio põe em dúvida — mais uma vez — a fidelidade do presidente à agenda liberal do governo.

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