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Benedita: combate às milícias no Rio também depende do Governo Federal

Candidata do PT à Prefeitura do Rio defendeu relação institucional com Bolsonaro e diálogo entre os três poderes do Executivo no combate ao crime organizado

Por Marina Lang Atualizado em 29 out 2020, 17h58 - Publicado em 29 out 2020, 12h49

Na penúltima entrevista com os cinco principais candidatos à Prefeitura do Rio, Benedita Silva (PT) defendeu a participação do Governo Federal no combate às milícias e ao narcotráfico ao projeto VEJA E VOTE na manhã desta quinta-feira, 29.

Em sabatina conduzida pelos colunistas Dora Kramer e Ricardo Rangel e pelo repórter Ricardo Ferraz, a postulante – que aparece tecnicamente empatada com Martha Rocha (PDT) e Marcelo Crivella (Republicanos) em segundo lugar na pesquisa divulgada pelo Datafolha na semana passada – também defendeu a revisão dos contratos da Prefeitura do Rio, maior presença da Guarda Municipal no cotidiano do carioca, além da criação de um auxílio social municipal para combater a miséria na cidade.

Na avaliação da candidata, a situação do crime organizado “não é uma coisa que o município possa resolver sozinho”. Conforme VEJA mostrou nesta semana, as associações entre milicianos e traficantes têm se tornado comuns nos negócios paralelos do crime organizado.

“Tratando-se de narcotráfico, tratando-se de milícia, tem que ter envolvimento do Governo Federal. É evidente que tem. Então é preciso que esses três poderes [municipal, estadual e federal] conversem e coloquem uma estratégia imediata de inteligência para combater esse tipo de crime”, analisou.

Benedita pontuou também que a questão da segurança deve ser cobrada pelo município ao estado do Rio – isso porque as forças policiais são controladas pela esfera estadual.

“A milícia é oriunda de um policial qualificado que aprende a estratégia, os manejos [de segurança]. Mas alguém tem que começar alguma coisa, tem que ter essa coragem e esse propósito. Quanto a uma segurança mais ostensiva, é preciso que a Prefeitura cobre ao estado a parte dela, que é de não entrar nas favelas como [as polícias] têm entrado, e que tenha inteligência para fazer qualquer tipo de investigação, qualquer tipo de prisão”, declarou.

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Ela também defendeu o fortalecimento dos comerciantes locais como uma forma de combate econômico às organizações criminosas.

“Nós sabemos que a ausência do poder público propiciou que houvesse essas instalações [da milícia em comunidades]. Não houve fiscalização, não houve serviço de inteligência que pudesse diluir um pouco essas formações que hoje estão em quase todas as esferas do país. Não é só no mundo empresarial e no mundo político. Da minha parte, como prefeita da cidade do Rio de Janeiro, é dar a responsabilidade aos moradores de tocarem os seus respectivos negócios. O que fazer nessas áreas? É dar garantias para que esses moradores sejam os grandes comerciantes, ajudar o comércio local desses territórios”, disse.

Diálogo entre os Poderes

Se prefeita e mesmo sendo de um partido adversário ao do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Benedita disse que defenderá a “harmonia entre os Poderes”.

“Vou ter uma relação com o presidente da República e com o governador do estado Rio de Janeiro [que será] institucional como prefeita da cidade, fazendo o que está na nossa Constituição. Nessa área de segurança, eu tenho que conversar com o governo do Estado para que o braço do estado também esteja em proteção do cidadão. Então é preciso conversar”, avaliou.

Guarda Municipal

A candidata do PT também defendeu uma reformulação da atuação da Guarda Municipal – e que ela esteja mais presente no dia a dia do carioca.

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“Nós temos [no Rio] um contexto de segurança pública que não é um contexto de cidadania. A Guarda Municipal tem sido vista como um braço da polícia armada, o que não é. A Guarda Municipal no meu governo vai prestar segurança pública de cidadania. As escolas precisam desse tipo de proteção. Ela vai estar na praça, ela vai estar na escola, nos terminais de ônibus, ela vai estar na ordem da cidade para que não tenhamos ambulantes nas calçadas – e que a própria Prefeitura dê destino a esses ambulantes, regulamentando as suas atividades. A Guarda deve defender o patrimônio, e Não tem patrimônio maior para a cidade que não seja as pessoas”, apontou.

Ela também propôs treinamento para os agentes da força municipal para fazer as abordagens. “Temos visto abordagens violentas, machistas, homofóbicas, racistas. É preciso que se entenda a pluralidade da cidade. Vou ampliá-la com uma guarda feminina para que as mulheres possam atuar nessa área com competência e com inteligência”, declarou.

Proposta de auxílio social

A candidata do PT também explicou a proposta de se criar um auxílio social – o chamado Moeda Carioca será destinado às populações mais vulneráveis do Rio de Janeiro.

Questionada pela colunista Dora Kramer sobre como o programa seria subsidiado diante da crise econômica da cidade, Benedita detalhou que os recursos se dariam a partir da própria dinâmica das comunidades mais pobres do Rio: uma bolsa auxiliar, no valor de R$ 100, seria repassada por meio de um cartão magnético para consumo nos comércios locais, e 2% desse dinheiro gasto pelo consumidor será repassado a um fundo. Esse recurso será gerido por um banco popular, que emprestaria recursos sem taxas para que o cidadão possa fazer reformas ou melhorias em sua casa, por exemplo.

“Vamos trabalhar com o Produto Interno Bruto das favelas, algo que os gestores anteriores não trabalharam. Isso vai aquecer a economia local”, afirmou.

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“Nós temos o recurso do Sistema Único Social e a minha proposta é criar um Bolsa-Família melhor, incluindo os não-incluídos na cidade. Seriam cem reais em cada bolsa transformados em moeda, a Moeda Social Carioca por meio de um cartão magnético. O beneficiário vai comprar na venda da Dona Maria, que vai receber esse dinheiro e vai deixar 2% no fundo, um banco popular emprestar a taxa zero recursos para que essas comunidades possam botar o seu vaso sanitário, consertar uma janela”, enumerou ela.

Benedita defendeu, também, um aumento de investimentos voltados aos alunos da rede pública municipal de ensino.

“Nós temos que equipar as escolas e dar aos estudantes de escolas públicas as mesmas condições que os que não estão lá têm. No mínimo um celular ou um tablet essas crianças vão ter. E que elas possam ter na sua comunidade uma banda larga disponível para que eles possam ter essas aulas à distância. As escolas estão depredadas, elas precisam ser reformadas. Vamos colocar equipamentos dos professores para que eles possam preparar suas aulas”, disse a candidata do PT.

Escolas

Benedita também defendeu cautela no retorno das aulas diante de um cenário de pandemia do coronavírus.

“Não podemos dizer voltem às aulas sem que os professores estejam com segurança protegidos, as crianças estejam protegidas e não se pode discutir um [retorno] sem chamar os professores, os conselhos familiares. Além disso, hoje já é lei, é preciso ter psicólogo e assistente social nas escolas”, afirmou.

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Recuperação econômica pós-pandemia

A candidata defendeu um mutirão para combater o alto índice de desemprego na capital fluminense.

“Teremos de imediato uma frente de trabalho para atender os inúmeros desempregados por meio de mutirões remunerados. Vamos reduzir cargos comissionados. Vamos rever os contratos abusivos que fazem com que a prefeitura seja questionada, seja na educação, seja nas OSs [organizações de saúde terceirizadas que gerem hospitais e clínicas no Rio], precisamos rever esses contratos para atrair investimentos”, elencou.

Transporte público

Em outro ponto da sabatina, Benedita defendeu a revisão dos contratos das concessionárias de transporte público, o término do corredor de ônibus BRT da Avenida Brasil, que ainda está em obras, e a unificação dele com o BRT da Zona Oeste.

“Vamos unificar a Transbrasil com a Transoeste. Também vamos fazer voltar as linhas de ônibus retiradas, rever contratos com essas empresas, e melhorar as condições para o usuário. Vamos melhorar as linhas de transporte funcionando na hora certa com o tempo certo. Estamos vivendo esse caos, é preciso que a gente comece a atrair investimentos”, afirmou.

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