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Com planos ambiciosos, PT e PL já veem obstáculos na corrida eleitoral

Ancorados em Lula e Bolsonaro, partidos enfrentam dificuldades nos principais colégios eleitorais do país para disputas municipais de 2024

Por Adriana Ferraz 17 dez 2023, 08h00
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  • “Será outra vez Lula e Bolsonaro disputando em 2024”, anunciou o presidente da República à militância de seu partido durante a Conferência Eleitoral do PT em Brasília, no último fim de semana, dando a largada para a corrida às prefeituras do ano que vem. O embate direto com a direita é a aposta da sigla de esquerda para dar a volta por cima em relação a 2020, quando teve o pior desempenho da história, não elegendo sequer um prefeito nas capitais. O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro tem a mesma estratégia para alavancar os votos nos municípios. Ancorado em seu maior cabo eleitoral, a agremiação tem a ousada meta de quadruplicar o número de prefeituras (elegeu 349 há três anos) e se firmar como o principal contraponto ao PT no país. Mas, às vésperas do ano eleitoral, ambos os partidos encontram-se às voltas ainda com disputas internas e cheios de dúvidas sobre alianças competitivas em algumas das mais importantes cidades.

    De volta ao Palácio do Planalto após seis anos, o PT acumula indefinições. Nos cinco maiores colégios eleitorais, só tem pré-candidato em Belo Horizonte, com o deputado federal Rogério Correia, mas até isso pode mudar se algum aliado com mais chances de vitória exigir o apoio como moeda de troca no cenário nacional. Levando-se em conta as dez metrópoles mais populosas, o partido definiu candidatura própria também em Porto Alegre, com a deputada Maria do Rosário. Em outras, como Salvador e Fortaleza, há divergências sobre o caminho a seguir.

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    EXCEÇÃO - Maria do Rosário: uma das poucas candidaturas certas do petismo (Gabriel Paiva/PT)

    Na capital da Bahia, que o PT comanda desde 2007, o governador Jerônimo Rodrigues quer lançar o seu vice, Geraldo Júnior (MDB) — e com isso, manter o apoio emedebista a sua gestão —, embora o PT já tenha escolhido o deputado estadual Robinson Almeida, que é bancado pelo senador Jaques Wagner. O cenário em Fortaleza é igualmente conturbado. Ali, o diretório adiou a decisão sobre ter candidato para o ano que vem, enquanto negocia com o PDT um nome comum às duas siglas e tenta apaziguar o interesse de três filiados que querem a indicação.

    Nas capitais onde o PT já definiu que não terá postulante próprio, como São Paulo, Rio e Recife, a legenda enfrenta problemas para indicar o vice. Em São Paulo, a vaga na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) está garantida, mas o nome petista ainda não existe. A lista de possibilidades inclui a professora Ana Estela Haddad, mulher do ministro Fernando Haddad, e até a ex-prefeita Marta Suplicy, hoje secretária da gestão Ricardo Nunes (MDB). No Rio e em Recife, Eduardo Paes (PSD) e João Campos (PSB) resistem à ideia de entregar o posto aos petistas — os dois são nomes quase certos na corrida aos governos do Rio e de Pernambuco em 2026, o que eleva o valor do posto. “Eles querem os votos do PT, mas querem esconder a aliança. Se não tivermos as vices, vamos ter de negociar outras condições de participação nos governos para manter o apoio”, diz um assessor do comitê criado pela sigla para organizar as campanhas.

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    crédito: instagram @claudiocastrorj
    TIME - Cláudio Castro, Ramagem e Bolsonaro (sentados): PL tenta caminhar unido no Rio para enfrentar Eduardo Paes (PSD) (Reprodução/Instagram)

    Do lado bolsonarista, as coisas também não andam bem. Um dos gargalos é a dificuldade dos dois principais nomes do PL — Bolsonaro e o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto — de formar consensos. A eleição em São Paulo é um bom exemplo. Há poucos dias, o ex-presidente verbalizou, mais uma vez, o apoio ao deputado Ricardo Salles, seu ex-ministro e representante do bolsonarismo raiz, que tanto agrada a parte expressiva da direita. Já Valdemar, que havia dado sinal verde para Salles procurar outra sigla, prefere o acerto com o atual prefeito Ricardo Nunes, de quem espera indicar o vice.

    O ex-presidente admite o enrosco e já disse que, às vezes, tem de “engolir” o candidato do aliado, e vice-versa. “Nós temos realmente tido problemas com vários nomes para disputar a prefeitura na mesma cidade. Isso não é fácil, mas para podermos crescer temos de abrir mão. Então, por vezes, eu engulo o candidato do Valdemar e ele engole o candidato meu”, disse, durante evento do PL. Para a prefeitura do Rio, por exemplo, após o general Walter Braga Netto ter ficado inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, o grupo bolsonarista emplacou, ao menos por ora, o nome do deputado Alexandre Ramagem. O ex-­chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) já recebeu o apoio do governador fluminense, Cláudio Castro (PL). “Nós achamos um nome que convergiu. Teremos um candidato e acredito que o Ramagem tem tudo para se viabilizar”, afirmou Castro.

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    Nomes que passaram pelo governo Bolsonaro ou se elegeram no embalo da onda bolsonarista são apostas no PL em outras capitais. Ex-ministros como Gilson Machado (Turismo) e Marcelo Queiroga (Saúde) devem ser candidatos em Recife e João Pessoa, respectivamente. O partido também tende a escolher parlamentares bem colocados em 2022 para assumir pré-­candidaturas em cidades com horário político próprio. Em Goiânia, o deputado federal Gustavo Gayer, segundo mais votado do estado, assumiu a direção municipal da legenda com o aval de organizar sua própria campanha. Mas investir em nomes já testados nas urnas não é, ao menos por enquanto, garantia de sucesso. Em Belo Horizonte, o deputado estadual Bruno Engler, recordista de votos para a Assembleia, está apenas em quarto lugar, com 10%, segundo pesquisa Real Time Big Data de novembro.

    Acampamento Dona Neura, do MST
    DESAFIANTE - Ricardo Salles: apoio do ex-presidente para a disputa paulistana (Matheus W. Alves/Futura Press)

    Tanto PT quanto PL correm para resolver a tempo os imbróglios e indefinições atuais e escoram suas ambições para 2024 em dois fatores. Um deles é o dinheiro. Donos das maiores bancadas eleitas para a Câmara, PL e PT terão as maiores fatias do fundo eleitoral e maior tempo de rádio e TV. O outro é o peso dos seus cabos eleitorais, mas a polarização política pode ter limites quando o que está em jogo são as disputas municipais. “A preocupação é outra, diz respeito à qualidade do atendimento no posto de saúde, no transporte público e na escola dos filhos”, aponta o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco. As urnas também mostram que, ao menos nas últimas disputas, o eleitor optou por partidos mais ao centro do espectro ideológico: tanto em 2016 quanto em 2020, as siglas com mais prefeitos eleitos foram MDB, PP, PSD e PSDB.

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    Para Lula e Bolsonaro, investir em 2024 é estratégico para os seus planos eleitorais. Ambos indicam que irão entrar de cabeça nas principais disputas municipais de olho em um bom desempenho que fortaleça as suas posições para a eleição nacional de 2026. Como mostrou a Conferência Eleitoral do PT, a sigla vai explorar fortemente os investimentos do governo federal para alavancar seus candidatos. Uma das ferramentas, por exemplo, é um aplicativo que irá dar a cada candidato da legenda as obras e programas tocados pela gestão Lula em seus municípios. “A pessoa não terá nem de produzir o material, basta clicar e a propaganda sairá pronta”, diz o secretário nacional de comunicação do partido, Jilmar Tatto. Já Bolsonaro, animado com a vitória de Javier Milei na Argentina, se prepara para voltar a rodar o país levando a tiracolo a ex-primeira-dama Michelle, outro trunfo eleitoral do PL. Tanto Lula quanto o ex-­presidente confiam em suas respectivas capacidades de liderança para corrigir os rumos dessa confusa largada. As urnas dirão se eles estão certos.

    Publicado em VEJA de 15 de dezembro de 2023, edição nº 2872

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