O presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou a compra de armas por civis em uma de suas bandeiras no governo que caminha para o fim. Nesta disputa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele brigava para mostrar uma imagem moderada nesta reta final de campanha. Falava de propostas e comparecia a debates enquanto o petista, acuado pela reação do adversário nas pesquisas, corria do confronto direto.
Quis o destino que a figura torta de Roberto Jefferson, personagem marcante na história de Lula, também deixasse suas digitais no que pode ser o ato final da passagem de Bolsonaro pelo governo.
Jefferson foi um aliado de Lula no mensalão. Rompeu com ele por falta de proteção, quando o esquema explodiu no passado, e saiu atirando. O mesmo Jefferson se aproximou de Bolsonaro e tornou-se um dos aliados próximos do presidente — frequentando, sim, o círculo pessoal de Bolsonaro.
Estimulado pelo discurso golpista e armamentista exibido por Bolsonaro em diferentes momentos do governo, tornou-se símbolo da ala radical que ameaça com armas os ministros do Supremo Tribunal Federal. Imaginava, como no passado, ter a proteção do Planalto. Preso, amargou o mesmo abandono vivido nos governos petistas. Desta vez, porém, Jefferson não caiu com palavras. Caiu literalmente atirando com fuzil e lançando granadas contra policiais.
Para um candidato que precisa de votos dos eleitores moderados e de policiais — as vítimas deste domingo —, a ação de Jefferson pode ter o mesmo poder destruidor de quando ele revelou o mensalão petista. Jefferson é produto desse suco autoritário e armamentista produzido por Bolsonaro no Planalto para desmoralizar a Justiça. Ao atirar e ferir policiais neste domingo — para não acatar uma decisão da Justiça —, o aliado do presidente provocou duras perdas na campanha governista.
A conta do discurso radical contra as instituições chegou para Bolsonaro a sete dias da eleição. Restará para os livros de história que um aliado de Bolsonaro, ao receber a visita da polícia, reagiu com tiros de fuzis e granadas contra os policiais. O presidente correu para se afastar do ex-aliado, a quem chamou de bandido. Lula correu para capitalizar o bizarro episódio. Em sete dias, o país saberá o impacto dos eventos deste domingo.