A parceria do PT com o MST para a campanha e um eventual governo Lula
Núcleos reúnem militantes, sindicalistas e população assentada na reforma agrária e tem como um dos garotos-propaganda o ex-ministro José Dirceu
Há pouco mais de três meses um novo projeto foi colocado em prática por antigos aliados. O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) selaram uma parceria para colocar de pé de 5.000 a 10.000 “comitês populares de luta”, grupos formados por militantes, famílias assentadas na reforma agrária, sindicalistas e servidores públicos para mobilizar a campanha eleitoral de Lula e ter assento em rodas de discussão de programas sociais caso o ex-presidente seja eleito em outubro. No Distrito Federal, um dos garotos-propaganda do projeto é o ex-ministro José Dirceu, condenado nos escândalos do mensalão e da Lava-Jato. Ele participou do ato de inauguração do primeiro comitê local no fim de fevereiro e, conforme revelou VEJA, sua presença em atos partidários tem gerado incômodo entre quadros petistas.
O modelo de grupos populares replica práticas desenvolvidas há décadas por governos de esquerda na América Latina. Em 1960, Fidel Castro criou em Cuba os comitês de defesa da revolução, organizações civis que, entre outras tarefas, ajudavam o Estado a identificar adversários do regime. Na Venezuela, a prática recebeu o nome de “círculos bolivarianos”, foi gestada para apoiar o presidente Hugo Chávez e, segundo oposicionistas do governo federal, atua como paramilitares armados. A ideia da parceria PT-MST é que haja pelo menos um desses colegiados em cada município do país para atuar desde já na propagação de discursos políticos contra o governo de Jair Bolsonaro e de endosso ao projeto petista.
O próprio Lula tem visitado assentamentos da reforma agrária e discutido como agilizar a criação dos comitês para também pressionar o Congresso pela aprovação de pautas sociais. Em meados de março, o ex-presidente criticou o que chamou de “Congresso antipovo” durante um ato político ao assentamento Eli Vive, criado em Londrina (PR) durante sua segunda passagem pelo Palácio do Planalto e que conta com mais de 500 famílias assentadas.
Em Alagoas, o MST anunciou na segunda-feira 11 que vai criar 100 comitês populares no estado em áreas da reforma agrária.