Acusado de integrar uma organização criminosa que desviou medicamentos que seriam destinados aos indígenas Yanomami em Roraima, um funcionário público da Secretaria de Saúde do Estado decidiu colaborar com a Polícia Federal (PF). Em sua delação, Harisson Moraes da Silva disse que escondia e queimava remédios cumprindo ordens da chefe da pasta, Cecília Lorenzon, e do marido dela, o empresário Wilson Basso, além de citar uma conversa com a secretária na qual ela teria dito, sem entrar em detalhes, que o governador Antonio Denarium (PP) estaria “ciente de tudo”.
O servidor era dono de uma casa abandonada em Boa Vista, onde a PF encontrou, no início deste ano, pilhas de caixas e sacolas repletas de medicamentos que deveriam ter sido enviados aos indígenas do território Yanomami. No depoimento, o funcionário-colaborador disse que o empresário Wilson Basso, marido da secretária estadual de Saúde, solicitou que ele levasse os medicamentos para uma casa abandonada.
O pedido foi feito poucos meses depois de a PF cumprir um mandado de busca e apreensão na residência do empresário, para apurar a suspeita de superfaturamento na execução de contratos de fornecimento de cilindros de oxigênio, insumos hospitalares e medicamentos.
O esquema teria desviado quase 1 milhão de reais destinados à saúde dos indígenas. O funcionário contou ainda que telefonou para a secretária Cecília Lorenzon no dia em que os policiais apreenderam os remédios. Como resposta, ouviu que não era para se preocupar, “pois não era problema dela, nem dele”. O servidor acrescentou que entrou em contato novamente com a secretária após a deixar a prisão. Na ocasião, Cecília teria dito a ele, sem entrar em detalhes, que o governador conhecia o caso.
Laranjas e lavagem de dinheiro
Uma das linhas de investigação da PF é de que o desvio de remédios era acompanhado de um esquema de lavagem de dinheiro. Dentro do caminhão usado para levar os medicamentos para a casa abandonada, os investigadores encontraram cartões de crédito e débito em nome de “laranjas”, extratos bancários e anotações com indicações de pagamentos para a secretária, a mãe dela e o marido.
“Revela-se a provável existência de um organismo criminoso, circunstância essa que está diretamente relacionada com o crescimento da morte dos indígenas Yanomami”, diz um trecho do inquérito da PF, cujo foco é apurar, dentre outras coisas, a prática de crimes como lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva. Procurados, o governador e a secretária Lorenzon não se manifestaram.