Os bastidores de ‘Sweet Tooth’, do visual das crianças híbridas à pandemia
Série da Netflix imaginou um mundo transformado por um vírus – antes mesmo de o mundo real ser afetado por outro
Quando os criadores da série Sweet Tooth, Beth Schwartz e Jim Mickle, começaram a imaginar como adaptar a sombria história em quadrinho de mesmo nome em uma trama para toda a família, um dos primeiros desafios foi pensar em como seria viver em uma pandemia. Qual o tipo de vírus? Quais os sintomas? Como ele seria transmitido? E assim por diante. Mickle então cravou: “é um vírus de gripe, algo como uma gripe muito, muito forte”. Assim foi decidido que parte da humanidade seria dizimada pelo H5G9, um vírus que causaria tosse, febre, cansaço até culminar em tremores nos dedos das mãos – último estágio antes da morte. Isso tudo foi pensado bem antes de o mundo real ser tomado pelo novo coronavírus.
O primeiro episódio da série foi gravado em 2019, na Nova Zelândia. Quando o projeto foi retomado, no ano seguinte, já em plena pandemia, a equipe decidiu continuar por lá, valendo-se do bom controle feito pelo governo neozelandês no combate à Covid-19. As belas planícies, cenário abundante da trama, também foram providenciais para contar a história de um mundo em que crianças híbridas, meio-humanas e meio-animais, surgem ao mesmo tempo que o vírus mortal. Elas então passam a ser caçadas e usadas em experimentos, na busca por uma cura.
O protagonista, Gus (interpretado pelo adorável canadense Christian Convery), é um garoto-cervo, salvo pelo pai da perseguição apocalíptica e criado na floresta. Eventualmente, o garoto de 10 anos fica sozinho e se alia ao viajante “Big Man” (o Homem Grande, vivido por Nonso Anozie) na busca por respostas e, especialmente, por sua mãe.
Para além de driblar uma pandemia – enquanto filmava uma pandemia fictícia –, a equipe de Sweet Tooth tinha um grande desafio: como fazer crianças com características animais de forma convincente? A resposta para essa pergunta oferecia dois caminhos: primeiro, bons atores-mirins; segundo, maquiagens impecáveis aliadas à equipe de efeitos especiais. Para a segunda parte, a produção contratou Grant Lehmann, artista australiano especialista em fantoches e fantasias eletrônicas. Entre suas criações para o figurino da série estão as orelhas flexíveis de látex que ornam a cabeça de Gus, logo abaixo de sua galhada. Deu-se então início a uma bem-sucedida atuação conjunta. Enquanto Convery, hoje com 11 anos, atuava encantando todos ao redor, Lehmann manejava um controle remoto que mexia as orelhas artificiais do menino em momentos propícios.
Ainda mais complicada, porém, foi a produção de bebês híbridos. Ao mesmo tempo em que o mundo se rende ao caos do lado de fora do hospital, lá dentro, uma maternidade exibe diversas crianças com traços da cachorros, gatos, aves, entre outros bichos. Para isso, os produtores optaram novamente por fantoches super-elaborados em vez de efeitos especiais computadorizados. Cada um deles era manejado por três ou quatro profissionais, amparados por um mecanismo instalado no corpinho dos bonecos que emulava a respiração. “Tinha que parecer o mais real possível, para a audiência acreditar naqueles bebês”, disse ao The New York Times o especialista Justin Raleigh, da empresa de efeitos visuais Fractured FX, contratada para criar os bebês.
Baseado em uma série de quadrinhos da DC Vertigo, assinada por Jeff Lemire, a trama foi abraçada pelo ator Robert Downey Jr, que começou a produzi-la com a Hulu, canal de streaming americano, antes de entregá-la nas mãos da Netflix. A plataforma ainda não oficializou uma segunda temporada, mas, com o sucesso que a série tem feito e por seu final que deixou tantas questões em aberto, a expectativa é que novos episódios sejam produzidos. As orelhinhas de Gus chegam a se agitar de tanta ansiedade.