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O default americano e a hora dos histéricos. Ou: “Cuidado com os autoritários do bem!”

Eu estava prestes a sugerir que alguém ministrasse um Lexotan ou um Frontal a Arnaldo Jabor — ou que se aumentasse a dose, sei lá eu. Mas acho que dá para esperar um pouco. A Câmara dos EUA aprovou um plano de aumento da dívida (ver post abaixo) que garante as contas até o começo […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 11h15 - Publicado em 29 jul 2011, 22h04

Eu estava prestes a sugerir que alguém ministrasse um Lexotan ou um Frontal a Arnaldo Jabor — ou que se aumentasse a dose, sei lá eu. Mas acho que dá para esperar um pouco. A Câmara dos EUA aprovou um plano de aumento da dívida (ver post abaixo) que garante as contas até o começo do ano que vem ao menos. Os democratas querem mais. Em tese, ao menos, no limite, dá para convergir com o “mínimo” oferecido pelos republicanos. De fato, a proposta ainda mantém Obama pendurado na brocha. Imprudente, este grande estrategista, este mago das esferas, resolveu lançar a sua recandidatura à Presidência e negociar a elevação do teto da dívida ao mesmo tempo…

Sim, como as circunstâncias são dramáticas, ele fez de conta que a oposição não existia. Mas, como todos sabemos e nos assegura Arnaldo Jabor, republicanos são pessoas más, até mesmo racistas, que só querem a destruição de Obama. O cineasta aprendeu com Lula que oposição só serve para encher o saco e sabotar o governo. Ah, quanta gente com saudade da ditadura, não é mesmo!

Que importância tem a opinião de Jabor. Huuummm… Está na principal emissora de televisão do país, não é? Ajuda a formar a opinião de alguns. Ontem, no Jornal da Globo, ele realmente foi muito além das suas sandálias — e das sandálias da democracia. Vejam.

https://s.videos.globo.com/p2/player.swf

Não por acaso, a era Roosevelt, cujas glórias ele canta, foi, até hoje, o mais perto  a que os EUA chegaram do fascismo. Pode-se até argumentar que era menos uma escolha do que o espírito de uma época, mas isso não muda a natureza da coisa. Há muito mais em comum entre o New Deal e o fascismo (também o fascismo alemão, chamado “nazismo”) do que sonha um vão “progressista”. Basta estudar um pouco e substituir metáforas por fatos.

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De lá pra cá, a democracia avançou na América. É comovente ver Jabor entusiasmado com a disposição de Roosevelt de passar por cima do Congresso se a nação estiver ameaçada… Que tiranete da América Latina não evocou justamente esse risco parar dar um golpe? Cruz credo! Ou “credo em Cruz!”, como a gente fala em Dois Córregos…

O que Jabor afirma sobre a Emenda 14 é uma sandice, além de desrespeitar o texto, pouco importa quantos especialistas ele evoque. Vamos à letra do trecho pertinente da emenda:
4. The validity of the public debt of the United States, authorized by law, including debts incurred for payment of pensions and bounties for services in suppressing insurrection or rebellion, shall not be questioned. But neither the United States nor any State shall assume or pay any debt or obligation incurred in aid of insurrection or rebellion against the United States, or any claim for the loss or emancipation of any slave; but all such debts, obligations and claims shall be held illegal and void.

Traduzo:
“A validade da dívida pública dos Estados Unidos, autorizada por lei, incluindo as dívidas feitas para o pagamento de pensões e de recompensas por serviços prestados na repressão a insurreição ou rebelião, não será questionada. Mas nem os Estados Unidos nem qualquer um dos Estados deverão assumir ou pagar qualquer dívida ou obrigação contraídas para auxiliar insurreição ou rebelião contra os Estados Unidos, ou ainda qualquer indenização pela perda ou emancipação de escravos; todas essas dívidas, obrigações ou indenizações serão consideradas ilegais e nulas”.

Alguém pode me dizer aí quais palavras, trechos ou passagens autorizam o que sustenta o nosso pensador? Ademais, desde quando “default” é sinônimo de questionamento de dívida? Tenham paciência! E Jabor esqueceu de ler a Seção 5 da Emenda 14  — a 5 vem logo depois da 4… E diz o seguinte:
5. The Congress shall have power to enforce, by appropriate legislation, the provisions of this article.
Ou:
“Cabe ao Congresso a tarefa de pôr em prática, com legislação apropriada, as disposições deste artigo”.

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Entenderam? Cabe ao Congresso. Obama certamente não ouvirá Arnaldo Jabor  — ou seria alvo de um processo de impeachment por usurpar um poder do Congresso.

Por que essa contestação da opinião de um cineasta? Porque ela é a expressão mais emblematicamente histérica do que costumo chamar “autoritarismo do bem”. Imaginem se os governantes forem evocar Roosevelt a cada vez que julgarem que o país está sob uma grave ameaça…

O Senado, de maioria democrata, deve rejeitar a proposta aprovada na Câmara, que é dos republicanos. Dêem-me uma boa razão para que não chamemos “intransigentes” também os democratas… É que Jabor, Lula e, tudo indica, Obama acreditam que a oposição só quer mesmo é o mal do país…

A propósito, o presidente americano falou à nação hoje pela enésima vez. Um dos grandes, dos monumentais defeitos de Obama é a ambição de governar o país acima das instituições, jogando o povo contra o Congresso.

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É.. De certo modo, ele se espelha mesmo em Roosevelt… Se os EUA caminharem para o default, o principal responsável tem nome: Barack Obama!

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