Por que Bolsonaro decidiu mudar o comando do Banco do Brasil
Desgaste político provocado pelo fechamento de agências do BB é o principal fator de desgaste para André Brandão no Planalto
O timing da queda do presidente do Banco do Brasil, em curso no Palácio do Planalto nesta quarta, é catastrófico para o Planalto e a imagem de Jair Bolsonaro. Desde a revelação, pelo Radar, da movimentação em curso, as ações do BB passaram a cair e já batiam em -4,03% há 15 minutos.
A leitura do mercado, de que a queda de Brandão se dá em função da resistência do Planalto ao pacote de ajustes anunciado nesta semana é o fator da queda dos papeis e a verdadeira razão da provável demissão. Mas o fato de a troca ocorrer no momento em que o Planalto ajuda o centrão na luta pelo comando da Câmara e do Senado também contamina o ambiente.
Integrantes do governo, que atuam na busca de um nome para o lugar de Brandão, avaliam que o Planalto cometerá um grave erro se escolher alguém ligado politicamente aos partidos envolvidos na eleição das mesas do Congresso. A depender do nome e do currículo do escolhido, o Planalto confirmará a suspeita de toma lá dá cá na jogada e ofuscará o verdadeiro fator de desgaste para Brandão na relação com Bolsonaro.
A decisão de fechar mais de 300 agências do BB pelo país é o grande ponto de desestabilização no Planalto para o chefe do BB. Bolsonaro considerou uma afronta o anúncio sem que ele estivesse por dentro dos detalhes mais desgastantes, do ponto de vista político, da medida.
Brandão e sua equipe, segundo o Planalto, até apresentaram a auxiliares de Bolsonaro os termos do plano de ajustes no banco, mas a informação não foi submetida ao presidente. Com a notícia de fechamento das agências, o Planalto passou a ser alvo de uma série de reclamações de prefeitos descontentes.
Na cabeça do presidente, sempre aberta a conspirações, Brandão — que foi indicação técnica do chefe do BC Roberto Campos Neto — anunciou o plano de fechamento de agências porque foi cooptado pela ala petista de servidores do Banco do Brasil. O ajuste, ainda que elogiado no mercado, seria, na lógica de Bolsonaro, uma manobra política do chefe do banco para prejudicar a popularidade do governo.
O desespero da ala moderada do Planalto, que tentava imprimir nesse 2021 uma agenda equilibrada de ajustes, é afastar a imagem de que Brandão deixará o banco na esteira do toma lá dá cá da disputa dos partidos pelo comando das casas do Congresso.
A ideia de que o presidente é contra medidas técnicas de ajuste no banco estatal por ter preocupações políticas, apesar de tóxica para o mercado, é menos pesada ao discurso moral do governo, avaliam auxiliares de Bolsonaro.