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General que atuou na ditadura é candidato na cidade ‘berço’ do golpe de 64

Militar integrou tropa que derrubou Jango, foi do serviço de informações e enfrentou guerrilha; mas candidatura do general Felicio está sub-judice

Por Evandro Éboli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 out 2020, 12h15

Um general que atuou na ditadura é candidato na cidade ‘berço’ do golpe de 1964.

O general Marco Felicio, de 82 anos, disputa a Prefeitura de Juiz de Fora (MG), de onde partiu a unidade do Exército que no 31 de março daquele ano derrubou o presidente João Goulart.

Felicio fez parte dessa tropa. E conta com orgulho ter integrado o Destacamento Tiradentes, que deu inicio à queda de Jango. Contribuiu, nas suas palavras, com a “contrarrevolução” que impediu a instalação de um governo “comuno sindicalista” no país.

“Em 1964, na contrarrevolução de 31 de março, integrou a ponta do Destacamento Tiradentes, a coluna militar que, saindo de Juiz de Fora, deslocou-se para o Rio de Janeiro impedindo que se instalasse no país um governo ‘comuno sindicalista'”, diz a biografia do general nas suas redes sociais.

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O general é filiado ao PRTB, do outro quatro estrelas Hamilton Mourão, vice-presidente da República.

Marco Felicio destaca sem rodeio que no período do regime militar foi Assessor de Inteligência do Gabinete do Ministro do Exército.

Felicio atuou para como tenente combateu a Guerrilha de Caparaó, um dos primeiros focos guerrilheiros contra a ditadura, ocorrida entre 1966 e 1967, na divisa de Minas Gerais com o Espírito Santo. Boa parte do contingente era de ex-militares cassados pelo regime. Um grupo treinado em Cuba e que contou com apoio de Leonel Brizola.

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“Como tenente, (Felicio) combateu a Guerrilha de Caparaó, reconhecendo a região de operações e orientando as unidades de Polícia Militar no investimento e pente fino da área na qual se encontravam núcleos de guerrilhas”.

O general foi o autor de um manifesto – “Alerta a Nação: eles que venham, por aqui não passarão” -, em 2012, que fez ataques à Comissão Nacional da Verdade e ao então ministro da Defesa, Celso Amorim. O documento foi assinado por 300 militares da reserva e abriu uma cizânia entre os militares e o governo de Dilma Rousseff.

Em Juiz de Fora, durante o regime, o general tomou conta de presos políticos, na 4ª Região Militar. Numa entrevista do jornal “Estado de Minas”, em 2012, afirmou não se lembrar de Dilma, que esteve presa na cidade, e negou prática da tortura.

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“Esse povo mente muito. Eu servi em Juiz de Fora até meados de 1971 como oficial de informação Lá, inclusive, havia muitos presos políticos e ninguém foi torturado. Pelo contrário. Todos os presos que passaram por lá foram muito bem tratados”, contou o general ao jornal mineiro.

Entre as fotos que já postou na sua página nas redes, tem uma imagem do coronel Brilhante Ustra, apontado como um torturador por muitos perseguidos políticos que passaram pelo Doi-Codi em São Paulo, comandado por ele. A imagem de Ustra foi postada em 31 de março de 2018, com os dizeres:

“Dedico esta data especial (31/03/1964) à memória de Carlos Alberto Brilhante Ustra. Com sua “Brilhante” atuação garantiu nossa liberdade em sua luta contra os terroristas. Feliz 31 de Março!” 

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No momento, a candidatura de Felicio está sub-judice. Por falta de alguns documentos na Justiça Eleitoral sua situação é de indeferimento, mas entrou com recurso. E aguarda julgamento. Nesse momento, até pode disputar o pleito, mas corre o risco de, mais tarde, ver seus votos nada valerem.

Bolsonarista, chegou a comparar a decisão da Justiça eleitoral como uma “segunda facada”, numa referência ao atentato na cidade contra o então candidato Jair Bolsonaro, durante a campanha de 2018.

O general não vai bem nas pesquisas eleitorais em Juiz de Fora. No levantamento do Ibope, de uma semana atrás, ele aparece em quinto lugar, com apenas 2% das intenções de voto.

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Esta é a quarta experiência eleitoral do militar. Já disputou duas vezes uma vaga para deputado federal e outra para vereador. Não logou êxito em nenhuma delas.

Durante toda esta semana, Radar tentou falar com o general Felicio. Chegou a ser agendada uma entrevista, não concretizada. Depois de vários contatos, sua assessoria informou, na noite de ontem, que ele está incomunicável para cuidar de sua situação na Justiça Eleitoral.

Abaixo, a postagem do general alusiva a Ustra na suas redes, no 31 de março de 2018.

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(Redes sociais/Reprodução)
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