Crivella permitiu a instalação de um esquema de ‘laranjas’ na prefeitura
É o que diz a desembargadora Rosa Helena Guita, do TJRJ, que autorizou a prisão do prefeito do Rio

Na decisão que autorizou a prisão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Bezerra Crivella (Republicanos), a nove dias do fim de seu mandato, a desembargadora Rosa Helena Guita, do TJRJ, diz que os fatos apresentados pelo Ministério Público revelavam a existência de um “intrincado esquema criminoso envolvendo membros da Administração Municipal, empresários, pessoas físicas e jurídicas”, que funcionavam como “laranjas”.
Ainda segundo o despacho, a que o Radar teve acesso, esse esquema apontado pelos investigadores — o “QG da propina”– era comandado por pessoas que não tinham “qualquer vínculo efetivo com a estrutura da prefeitura”, como Rafael Alves, preso nesta terça.
A magistrada da Primeira Câmara Criminal também detalha informações que constam dos depoimentos prestados pelo doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela Operação Câmbio Desligo, em 2019.
“De acordo com os depoimentos prestados por Sérgio Mizrahy à Polícia Civil, constantes no Anexo I dos autos da sua colaboração, a empreitada criminosa teria se intensificado em 2016, durante a campanha eleitoral de Crivella, ocasião em que Rafael Alves lhe pediu que providenciasse contas bancárias pelas quais pudesse receber quantias em espécie a serem utilizadas na referida campanha”, relata a desembargadora.
Guita aponta ainda que, de acordo com o doleiro-colaborador, uma vez eleito, Crivella colocou Rafael Alves em uma sala da Riotur “mesmo sem exercer qualquer cargo público, local onde o colaborador esteve por diversas vezes para lhe entregar valores em espécie provenientes das operações de troca de cheques mediante cobrança de “taxa de serviço”.
“Relatou ainda o colaborador Sérgio Mizrahy que Rafael Alves cobrava propina para autorizar o pagamento de faturas atrasadas a empresas credoras, destinando o percentual de 20% a 30% a Marcelo Alves, seu irmão, então presidente da Riotur, e outro percentual ao Prefeito Marcelo Crivella”.
Na decisão, a desembargadora afirma, ainda que a proximidade de Crivella com Rafael Alves “restou patente”.