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O governo Temer está morto, mas se esqueceu de deitar

Com a paralisação dos petroleiros marcada para depois de amanhã, outras categorias também vão cruzar os braços e jogar com a fragilidade do governo?

Por Maicon Tenfen Atualizado em 28 Maio 2018, 15h55 - Publicado em 28 Maio 2018, 07h26

Segunda e terça da semana passada, enquanto os caminhoneiros faziam a paralisação crescer, Temer e seus ministros se limitaram a agir como os macaquinhos da charge: um tapou os olhos, outro cobriu a boca e outro enfiou os dedos nos ouvidos, todos fingindo que nada estava acontecendo porque a prioridade da semana era lançar Henrique Meirelles como candidato do governo à disputa presidencial.

Na quarta e na quinta, quando até o Planalto conseguiu perceber que a lona do circo estava em chamas, os macaquinhos se transformaram em vira-latas que balançam os rabinhos, rolam de um lado para o outro e depois correm a lamber os primeiros pés que aparecem pela frente. Tamanha docilidade pressupunha a certeza de que a greve se encerraria no dia seguinte.

Acontece que as botas que receberam o banho de língua não pertenciam exatamente aos caminhoneiros, mas aos donos das distribuidoras de combustíveis. Aqui não se pode acusar o governo de incompetência pura e simples, mas apenas de seguir a velha prática de se curvar aos interesses do patronato. Erraram feio porque a liderança da greve, nesse ponto, já atendia pelo nome de WhatsApp.

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Sexta-feira chegou e nada da desmobilização dos caminhoneiros. Foi quando o espetáculo atingiu um clímax de nonsense e vergonha alheia: depois de vestir uma fantasia furreca de leão selvagem, Temer resolveu estufar o peito e rugir para o horizonte. Já que uma “minoria radical”, segundo ele, não havia cumprido o acordo, a presidência se viu obrigada a ativar as forças de segurança nacional.

(Parênteses necessários: existe alguma possibilidade de Michel Temer lidar com qualquer problema que seja sem recorrer aos militares? Alguém deveria dizer ao presidente que soldado não é faxineira. Depois de uma semanada de indiferença, subserviência e desespero, é sacanagem chegar para os generais e dizer: “deem vocês um jeito nessa bagunça que eu não consegui limpar!”).

Seja como for, veio o fim de semana e as ações militares se restringiram ao mínimo possível. Desobediência branca? A hipótese faz sentido. Até porque o exército não é obrigado a sujar sua imagem para corrigir a inépcia de um governo fraco. Em geral não houve bloqueio de estradas, apenas a paralisação da categoria, e a narrativa do “locaute” vendida pelo ministro Raul Jungmann não colou como se esperava.

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Até agora, graças aos céus, fomos poupados de ver soldados atacando compatriotas que se manifestam de forma pacífica por uma causa justa. Ainda mais a mando de um grupo político marcado pela corrupção. Alguém precisa recuperar o bom senso no Brasil, e é muito bom que isso comece pelos militares. O problema do abastecimento é gravíssimo, mas ainda não houve clima para a população torcer pelo governo.

Tanto isso é verdade que, ontem à noite, sem o apoio popular que desejavam, o leão, os vira-latas e os macaquinhos atuaram como uma ninhada de camundongos que temem ser pisoteados pelas tamancas da realidade. Sem outra alternativa, mas ao custo de bilhões aos cofres públicos, Temer reduziu artificialmente o preço do diesel em 0,46 centavos por litro.

O presidente deu para um lado, mas tirou de outro, o que nos leva à pergunta que será respondida hoje, segunda-feira, na prática o oitavo dia da greve: com a paralisação dos petroleiros marcada para depois de amanhã, outras categorias também vão cruzar os braços e jogar com a fragilidade do governo? Vão crescer os protestos de teor mais político — pedidos de renúncia, por exemplo?

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Temer nunca compreendeu a natureza natimorta do seu governo. Fracassou nas reformas e na recuperação econômica, fracassou em manter a ordem e fracassou na simples tarefa de respirar em silêncio enquanto o tempo passa até as próximas eleições. Antes de perder tempo lançando candidatos, o presidente deveria abrir a janela e olhar um pouco para a rua.

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