Inverno: Revista em casa por 8,98/semana
Imagem Blog

Noblat

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Os colapsos que ameaçam o Brasil: o hospitalar e o democrático

Bolsonaro controla a situação

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 19 mar 2021, 10h19 - Publicado em 19 mar 2021, 08h00

Jair Bolsonaro dispensa intermediários. Ele, em pessoa, como presidente da República, arrasta o Brasil na direção de dois tipos de colapso: o sanitário hospitalar, o maior da história, e o democrático – esse, certamente difícil de superar os pavorosos 21 anos da ditadura militar de 64. Os tempos são outros. O autoritarismo tem várias faces e diferentes meios de se impor.

O Brasil tem 2,7% da população mundial. Nas últimas 24 horas, o número de mortos pela Covid representou 27,9% de todas as mortes ocorridas no mundo. Foram mais 2.724 mortes, o segundo maior número em toda a pandemia. O aumento só foi menor que o registrado na última terça-feira – 2.841.  É o terceiro dia consecutivo em que os óbitos ficam acima de 2.600.

Foram registrados mais 86.982 casos, totalizando 11.780.820. Dezesseis estados e o Distrito Federal estão com ocupação de leitos de UTI acima de 90%. Dos 27 estados, 18 adotam toque de recolher. O estoque de remédios para atendimento de doentes graves está perto do fim. Quem toma decisões – o ministro da Saúde demitido ou seu sucessor ainda não empossado?

por que imaginar que a troca de ministros poderá resultar em um salto de qualidade no combate ao vírus? O ministro de saída antecipou que seu substituto “reza pela mesma cartilha”. O ministro de entrada, que obedecerá às orientações de Bolsonaro porque foi ele o eleito para governar. Por tudo que diz e repete, Bolsonaro não mudou de lado. Segue parceiro do vírus.

Somente ontem, no período de 12 horas, em conversa com devotos nos jardins do Palácio da Alvorada e na live das quintas-feiras no Facebook, Bolsonaro voltou a defender o tratamento preventivo de de infectados com drogas ineficazes, entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra o toque de recolher que chama de Estado de Sítio, e atacou governadores, Lula e o PT.

Continua após a publicidade

A quem desconfia estar doente, aconselhou: “Você passou mal, está com um pouco de dor de cabeça, dor nos olhos, um pouco de febre, resfriado, vai para o médico. Alguns nem vão, já tomam logo remédio ‘para matar piolho’, porque falar o nome também não pode. E eu tomei outro e me dei bem, e milhares de pessoas têm se socorrido nesse tratamento inicial e seguraram”.

Para desacreditar o avanço da doença no Brasil, tentou plantar a dúvida: “Parece que só morre de Covid. Os hospitais estão com 90% da UTI ocupada. O que a gente precisa fazer? Quantos são de Covid e quantos são de outra enfermidade”. E completou: “A gente pergunta aí, qual país do mundo que está tratando bem a questão do covid? Aponte um. Todo local está morrendo gente”.

A seu mando, a Advocacia-Geral da União tentará derrubar na justiça medidas restritivas adotadas por três governadores. Justifica: “Isso [toque de recolher] é estado de defesa, estado de sítio que só uma pessoa pode decretar: eu. Mas, quando assino um decreto de defesa ou sítio, vai para dentro do Parlamento”. Isolamento em excesso, segundo ele, empobrece o país.

Continua após a publicidade

Adiantou ter enviado ao Congresso um projeto de lei com urgência em que define o que são atividades consideradas essenciais durante a pandemia. “É toda aquela que serve para o cidadão botar pão na mesa. Então, tudo passa a ser atividade essencial”, aduziu. Atividade essencial não fecha. Nada fecha se tudo for considerado atividade essencial. Portanto, mais mortes à vista.

Enquanto Bolsonaro preparava o país para encarar novas mortes que poderiam ser evitadas, aconteceu mais um episódio de apagão democrático – desta vez a prisão em Brasília de três militantes do PT que estenderam uma faixa na Esplanada dos Ministérios acusando-o de genocídio. A Polícia Militar invocou a Lei de Segurança Nacional (LSN) para prendê-los.

Herança da ditadura militar de 64 que o Congresso, por medo, finge que não existe, a LSN está sendo usada para intimidar os opositores e críticos eventuais de Bolsonaro e do seu governo. Em nome dela, no dia anterior, um sociólogo de Palmas foi intimado a depor por ter pagado um outdoor onde Bolsonaro era comparado a um “pequi roído”, algo de pouco valor no Tocantins.

Continua após a publicidade

Com base na LSN, a Polícia Federal abriu 26 inquéritos em 2019 e 51 em 2020. Nos anos anteriores, a média era de 11. Outro dia, professores da Universidade Federal de Pelotas foram obrigados a assinar um termo de ajustamento de conduta depois de criticar Bolsonaro numa transmissão digital. No ano passado, o Ministério da Justiça investigou policiais que se diziam antifascistas.

A pesquisa Datafolha mais recente mostra que 79% dos brasileiros estão convencidos de que a pandemia fugiu ao controle das autoridades públicas, e por isso sentem medo. Enganam-se. Ao seu modo, Bolsonaro está no controle da situação, sempre esteve. Tudo está saindo conforme ele planejou. Morram os que tiveram de morrer, e daí? Se a economia afundar, seu governo acaba.

O mais será decidido ao longo da batalha de narrativas a ser travada até o último voto da eleição de 2022 – e nisso, ele e sua turma costumam se dar bem. 

Continua após a publicidade

Leia também:

  • Carta ao Leitor: O caminho perdido, entenda melhor sobre a economia do Brasil.
  • Covid 19: como os vizinhos da América do Sul tentam evitar o ‘Risco Brasil’.
  • Bolsonaro ainda não deu sinais claros de que compreende o tamanho do buraco em que se encontra.
  • Medicina Avançada: Novas tecnologias conferem a médicos, seguranças e soldados, visão especial.
  • Fracasso do governo na pandemia acentua uma urgência: acelerar a vacinação.
  • Plano de Bolsonaro para melhorar imagem já admite isolamento social total.
  • O inimigo dentro de casa: o novo embate entre o Planalto e o Coaf. 
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 2,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Ofertas exclusivas para assinatura Anual.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.